quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Individuação




Diz Marie-Louise Von Franz que:

“...Psicologicamente, a individuação significa um processo psíquico cujo objetivo é a diferenciação do indivíduo da psique coletiva e o desenvolvimento deste no sentido de uma personalidade individual. É verdade que a individualidade é dada a priori, mas só existe inconscientemente como “tendência” ou pattern determinada pelos genes, cuja concretização não se efetua eo ipso, porque ela implica, inevitavelmente, em discussão com o meio ambiente... Por isso, o processo de individuação é também um processo de conscientização, que anda, por um lado, de mãos dadas com a discussão entre o indivíduo e o mundo e, por outro, entre o indivíduo e o seu mundo objetivo interior ( o inconsciente) . (A Lenda do Graal – 63)

DI – A Dinâmica do Inconsciente – Volume VIII das Obras Completas de C.G.Jung – Editora Vozes.                                                                                                                                                                                                                                                       

DI -344

... Só podemos dizer que os indivíduos são iguais somente na medida em que eles são amplamente inconscientes, isto é, inconscientes da diferenças reais. Quanto mais uma pessoa é inconsciente, tanto mais ela se conforma aos cânones do comportamento psíquico. Mas, quanto mais ela toma consciência de sua individualidade, tanto mais acentuada se torna sua diferença em relação a outros indivíduos e tanto menos corresponderá ela `a expectativa comum. Além disso suas reações se tornam muito menos previsíveis. Isto se deve ao fato que a consciência individual é sempre muito mais diferenciada e mais ampla. Mas quanto mais ampla esta se torna, tanto mais ela perceberá as diferenças e tanto mais se emancipará também das normas coletivas, pois o grau de liberdade empírica será proporcional à extensão da consciência.

DI -345
... Na verdade, para a maioria, a fim de que um ponto de vista seja válido, precisa  colher o maior número possível de aplausos, independentemente dos argumento apresentados em seu favor. “Verdadeiro” e “válido” é aquilo em que a maioria crê, pois confirma a igualdade de todos. Mas para uma consciência diferenciada já não pé de todo evidente que  sua  própria concepção se aplique aos outros, e vice-versa.

DI – 111
As organizações ou sistemas são símbolos (profissão de fé) que capacitam o homem a estabelecer uma posição espiritual que se contrapõe à natureza instintiva original, uma atitude cultural em face da mera instintividade. Esta tem sido a função de todas as religiões. Por longo tempo e para uma grande maioria dos homens basta o símbolo de uma religião coletiva. Talvez só temporariamente e para um pequeno número relativamente pequeno de pessoas é que as religiões coletivas existentes se tornam inadequadas. Onde quer que um processo cultural esteja em andamento, seja nos indivíduos, isoladamente, seja em um grupo, dão-se rupturas com relação às crenças coletivas. Qualquer avanço cultural é, psicologicamente, uma ampliação da consciência, uma tomada de consciência, que só pode se realizar mediante uma diferenciação. Por isso, qualquer avanço começa sempre com a Individuação., isto é começa com o indivíduo abrindo novo caminho através de terreno até então não desbravado, depois de haver-se conscientizado de sua própria individuação. Para chegar a isto, deve ele primeiramente retornar aos fatos fundamentais de seu próprio ser, independentemente de qualquer autoridade ou tradição, e tomar consciência de sua diferenciação. Se conseguir conferir um valor à sua consciência ampliada, ele provocará uma tensão entre os opostos que lhe fornece estímulo para seus progressos posteriores.

DI – 112
Com isso não queremos dizer que o desenvolvimento da individualidade seja necessário, ou pelo menos oportuno, em quaisquer circunstâncias, (mas)... existe um número mais ou menos grande de pessoas para as quais o desenvolvimento da individualidade é uma exigência primordial, especialmente em uma época cultural como a nossa, que se banalizou por uma mentalidade coletiva e onde são praticamente os meios de comunicação que dominam o mundo.  ( este texto foi escrito na primeira metade do século XX – RC)

DI - 430
... Duvido da possibilidade de expor adequadamente as mudanças que se verificam no sujeito sob o influxo do processo de individuação, pois se trata de uma ocorrência mais ou menos rara, só experimentada por aqueles que passaram pelo confronto – fastidioso mas indispensável para a integração do inconsciente – com as componentes conscientes da personalidade... Mas, neste caso, há uma alteração não só dos conteúdos inconscientes, mas também do eu... quer dizer, o eu não pode deixar de descobrir que o afluxo dos conteúdos inconscientes vitaliza e enriquece a personalidade e cria uma figura que ultrapassa de algum modo o eu em extensão e em intensidade....

DI - 431
... o processo de individuação é, psiquicamente, um fenômeno-limite que necessita de condições especiais para se tornar consciente. Talvez seja a primeira etapa do caminho  de uma longa evolução que deve ser percorrida por uma humanidade futura...

DI - 432

... cada vez mais se confunde o processo de individuação com o processo de tornar-se consciente., e que o eu é, consequentemente, identificado com o Si-mesno, o que naturalmente acarreta uma irremediável confusão entre conceitos, pois com isso a individuação se transforma em mero egocentrismo e auto-erotismo. Ora, o si-mesmo compreende infinitamente muito mais do que apenas o eu...: significa tanto o Si-mesmo dos outros, ou os próprios outros, quanto ao eu. A individuação não exclui o mundo; pelo contrário, o engloba.

DI – 557
Todos aqueles momentos da vida individual em que as leis gerais do destino humano rompem as intenções, as expectativas e concepções da consciência pessoal são, ao mesmo tempo, etapas do processo de individuação. De fato, este último é a realização espontânea do homem total. O homem enquanto  consciente do próprio eu é apenas uma parte da totalidade vital, e sua existência não representa a realização deste todo...



Não há quem te toque, instrumento de música.
E te maravilhas com os sons que libertas!
Fazes lembrar a despreocupada criança que dedilha as cordas
e ri do poder das suas mãos.
Pouco me importo com  sons!
Não descanso é enquanto não vir transportares-te para mim.
Mas como não cuidaste de te realizar, não és.
Não tem nada que transportar.
E vens dedilhando ao acaso as tuas cordas
 na expectativa de um som mais estranho do que o outro.
Obsessiona-te a esperança de encontrares a obra no caminho
e de capturares o teu poema.
Como se a obra fosse fruto que pudesse encontrar fora de ti.

Saint-Exupéry  - Cidadela 403





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...