domingo, 20 de outubro de 2013

A pedagogia da escravidão nos Sermões do Padre Antonio Vieira

por Amarilio Ferreira Jr. e Marisa Bittar

na íntegra em pdf clicar aqui


  


...Diante da brutalidade desse regime social, o padre Antonio Viera não permaneceu insensível à dimensão do infortúnio, embora, contraditoriamente, buscasse justificá-lo.4

Eis, por exemplo, a alegoria que construiu para explicar o papel que o negro deveria desempenhar no âmbito do engenho: 


[...] não se pudéra, nem melhor nem mais altamente, descrever que coisa é ser escravo em um engenho do Brasil. Não ha trabalho, nem genero de vida no mundo mais parecido á Cruz e Paixão de Christo,que o vosso em um d’estes engenhos (Vieira, 1945a, v. XI, p. 309).

Para ele, em termos de sofrimento, o engenho era a cruz e o negro a própria imitação do Cristo mortificado que redimiu a humanidade do pecado original.

Mas, para Alfredo Bosi (1992, p. 148),

“a moral da
cruz-para-os-outros [sic] é uma arma reacionária
que, através dos séculos, tem legitimado
a espoliação do trabalho humano em
benefício de uma ordem cruenta”.

Além disso, no mundo real das relações de produção, o escravo do Brasil Colonial era apenas a engrenagem principal da máquina mercantilista que alimentou historicamente a acumulação primitiva do capital necessário à Revolução Industrial do século 19.

Nesse contexto, a ação missionária dos padres jesuítas em relação aos escravos
desafricanizados desempenhava a função de conformação cultural da superestrutura societária colonial.

A propósito, eis como Serafim Leite (1938, t. II, p. 358) descreve o sentido da práxis evangelizadora dos inacianos dirigida aos escravos:

[...] a assistência dos Padres aos negros tinha, sob o aspecto de pacificação, importância capital: tornava-se útil para os negros, porque os instruía, ajudava e consolava; útil aos moradores, porque, andando os negros tranqüilos, a vida no Brasil seguia em paz; útil para o Estado (ou como então se dizia, para a fazenda real), porque na paz prosperava a agricultura e a indústria açucareira, criava-se fonte de riqueza e, com ela, fontes de rendimentos públicos. Não menor era o impacto moral. [...] Os escravos, em contacto com os Jesuítas, não fugiam para os mocambos [quilombos], não furtavam, não se amancebavam, não se embriagavam, e diziam que, se procediam assim, é porque se confessavam com os Jesuítas.

É nessa perspectiva que os Sermões do Rosário revestem-se de sentido pedagógico, ou seja, a pregação de Vieira aos “pretos da Ethyopia” propugnava impor-lhes a concepção de mundo fundada na aceitação da escravidão. Com esse intento, pronunciou-se no XX “Sermão do Rosário”, em que aborda os três elementos de distinção dos senhores em relação aos escravos:

“nome, côr e fortuna”. Os seus argumentos
retóricos aqui revelam claramente
a arte do convencimento.

Todas as idéias estão habilmente encadeadas para demonstrar a similitude entre a condição dos escravos e a de Jesus: a sua origem escrava, a pobreza, o sofrimento e, ainda mais, o pioneirismo na divulgação do cristianismo pelos “pretos”.

Sustentando que em nenhum dos três quesitos (nome, cor e fortuna) havia superioridade dos brancos, começa evocando a origem escrava de Jesus lembra que Maria, ao saber que seria a mãe do Filho de Deus, dissera: “Eis aqui a escrava do Senhor” e “antes de ser mãe se chamou escrava”, portanto, Jesus, ao nascer, “enquanto Filho de seu Pai, é Senhor dos homens; mas enquanto Filho de sua Mãe, quis a mesma Mãe, que fôsse tambem escravo dos mesmos homens”, posto que o  parto, “segundo as leis, não segue a condição do pai, senão da mãe”.

Mais adiante, enaltecendo a condição de Maria, afirma que

“Deus não poz os olhos na majestade e grandeza das senhoras, senão na humildade e baixeza da escrava” 
(Vieira, 1948a, v. XII, p. 91-93 e 97).

Ainda nesse mesmo Sermão, enfatiza que: “quando os Apostólos repartiram
entre si o mundo, coube a S. Matheus a Ethiopia; mas quando lá chegou” o Evangelho já tinha sido divulgado “pelo primeiro Apostolo da sua patria [São Filippe], da mesma nação, da mesma lingua, e da mesma côr que os outros Ethiopes”, o que comprovaria a “antecipada diligencia com que os pretos se adiantaram a pregar a fé e veneração de Christo” (Vieira, 1948a, v. XII,
p. 107).

Logo em seguida, indaga da religião dos próprios portugueses naqueles tempos
bíblicos para responder:

O que se acha em pedras e inscripções antigas é que dedicaram templo a Octaviano Augusto, templo a Trajano, e a todos os deuses [...]. 
E quando os portuguezes, sem se lhes fazerem as faces vermelhas na sua brancura, reconheciam divindade n’estes monstros da ambição e de todos os vícios, os pretos nos seus altares adoravam o verdadeiro Filho de Deus e a verdadeira mãe do mesmo Filho.
(Vieira, 1948a, v. XII, p. 108).

Depois, ao abordar o terceiro elemento, diz:

[...] só resta a ultima razão, ou sem razão,
porque os senhores desprezam os escravos,
que é a vileza e miseria da sua fortuna.
Oh fortuna! [...] Virá tempo, e não tardará
muito, em que esta roda dê volta, e
então se verá, qual é melhor fortuna, se a
vil e desprezada dos escravos ou a nobre e
honrada dos senhores 
(Vieira, 1948a, v. XII, p. 113).

Prosseguindo, buscou assemelhar a “fortuna” do negro à de Lázaro  estabelecendo comparações históricas:

“Digam-me os ricos quem foi êste rico 
e os pobres quem foi êste Lázaro? 
O rico foi o que são hoje os que se chamam senhores, 
e Lázaro foi o que são hoje os pobres escravos” 
(Vieira, 1948, v. XII, p. 114).



Mas, condenando as tiranias, lastimando a situação triste dos oprimidos, quando assim os consolava da desigualdade de sua condição, o fim do orador era incutir-lhes conformidade, tal como analisou J. Lúcio Azevedo (1931, t. 2, p. 285):

"Nem êle podia condenar a escravidão. 
A isso o forçava a coerência, desde que sempre advogara se trouxessem escravos de África, para libertar os índios do obrigatório serviço. 
O Brasil tem o corpo na América e a alma na África, escrevera ele [...] Sem negros não haveria trabalho: era o argumento
da necessidade. O de que por êsse meio se salvavam tantas almas ignorantes de Deus escondia-lhe o horror do acto injusto. O mesmo raciocínio podia convir aos índios, mas êsse não o admitia."

Mas observemos outros elementos da aculturação nos seus Sermões:

“a gente
preta tirada das brenhas da sua Ethyopia,
e passada ao Brazil, conhecera bem quanto
deve a Deus [...], por este que pode parecer
desterro, captiveiro, e desgraça, e não é
senão um milagre, e grande milagre!”
(Vieira, 1945a, v. XI, p. 305).

Já o XXVII Sermão nos põe em contato com uma retórica tocante sobre as duas partes do homem – corpo e alma – cuja finalidade era mostrar que só era escrava uma delas:

“Sois
captivos n’aquella metade exterior e mais
vil de vós mesmos, que é o corpo; porém
na outra metade interior e notabilissima que
é a alma [...], não sois captivos, mas livres”.

Mas a liberdade, como se depreende de suas palavras, deveria tomar um único caminho: o da conversão. Advertindo para o perigo de se “vender a alma ao demonio”, professava que a alma não convertida consistia em pior cativeiro que o do corpo,

“e d’este captiveiro tão difficultoso, e tão
temoroso e tão immenso é que eu vos
prometto a carta de alforria pela devoção
do Rosario da Mãe do mesmo Deus”
(Vieira, 1948b, v. XII, p. 340-341 e 350).


Livres do maior e mais pesado cativeiro, que era o das almas, ainda permaneceriam escravos do corpo. Mas, nesse ponto, deparamo-nos com a argumentação mais impressionante tendente ao conformismo.

Admitindo ser “triste e miserável servir sem esperança de premio em toda a vida, e trabalhar sem esperança de descanço, senão na sepultura” afirma que nisto residia o “bom remedio” pregado pelo Apóstolo Paulo:

“O remedio é que quando servis a vossos
senhores, não os sirvaes como quem serve a
homens, senão como quem serve a Deus [...]
porque Deus vos ha-de pagar o vosso trabalho”
(Vieira, 1948b, v. XII, p. 358).

Mais adiante, evoca Pedro, que depois de falar com os cristãos em geral:

[...] se dilata mais com os escravos e os anima
a supportarem a sua fortuna com toda a
magestade de razões. [...] e logo ajunta as
razões dignas de se darem aos mais nobres
e generosos espiritos. Primeira: porque a
gloria da paciencia é padecer sem culpa
[...] Segunda: porque essa é a graça com
que os homens se fazem mais aceitos a Deus
[...]. Terceira, e verdadeiramente estupenda:
porque n’esse estado em que Deus vos
poz, é a vossa vocação similhante á de seu
Filho, o qual padeceu por nós, deixandovos
o exemplo, que haveis de imitar. [...]


Não compara a vocação dos escravos a outro grau, ou estado da Igreja, senão ao mesmo  Christo. Mais ainda. Não pára aqui o Apostolo; mas acrescenta outra nova e maior prerrogativa dos escravos, declarando por quem padeceu Christo

[...] A Paixão de
Christo teve dois fins: o remedio e o exemplo.
O remedio foi univesal para todos nós,
mas o exemplo não resta duvida S. Pedro
afirmar que foi particularmente para os escravos
[...] e porque? Porque nenhum estado
há entre todos mais apparelhado no que
naturalmente padece, para imitar a
paciencia de Christo e seguir as pisadas de seu exemplo 
(Vieira, 1948b, v. XII, p. 359- 360).

Conclui afirmando que os escravos não deveriam trabalhar de má vontade pois se nessa vida eles serviam aos senhores, acaso não seria uma mudança notável se na outra vida os senhores lhes servissem? Não, responde ele próprio. Isto seria muito pouco porque:

[...] esta grande mudança de fortuna que
digo não há-de ser entre vós e elles, senão
entre vós e Deus. Os que vos hão-de servir
no céo não hão-de ser vossos senhores que
muito pode ser que não vão lá: mas quem
vos há-de servir no céo é o mesmo Deus em
Pessoa. Deus é que vos ha-de servir no céo,
porque vós o serviste na terra 
(Vieira, 1948b, v. XII, p. 362).

Com essa prédica, estaria trocada a fortuna dos escravos: cá servindo aos homens, e lá sendo servidos por Deus. Por essa razão, deveriam trocar o fim de seu trabalho,

“fazendo-o de forçoso a voluntario, 
e servindo a vossos senhores como a Christo”
(Vieira, 1948b, v. XII, p. 365-366).

Difícil encontrar justificativa tão conformista sobre a escravidão no Brasil! Mas notemos também que Vieira escolhe sutilmente as palavras e a ocasião para atingir os colonos escravistas quando assevera que não serão os senhores que servirão os escravos no céu porque “muito pode ser que não  vão lá”.

Cabe-nos indagar, porém, sobre o efeito desta possibilidade transcendental na
soberba e na irracionalidade dos senhores.
Temeriam eles tal “ameaça”? Trocariam a sua condição de mando aqui na sociedade humana pela hipótese de ganhar o paraíso celestial? A resposta, a História já nos deu.

Por isso, constatamos que o pensamento de Vieira (1945c, v. III, p. 14) apresenta aspectos contraditórios. No que diz respeito à escravidão indígena, o pregador admoestava a aristocracia agrária do Maranhão: "deixeis ir livres os que tendes captivos”. Mas, em relação aos negros cativos, como vimos, o pregador jesuíta procurava justificá-la comparando-a ao sofrimento de Jesus.

 
...

Mas, Vieira insiste, essas palavras não são suas. Tudo o que ele diz vem da autoridade máxima, da Bíblia, e ele cita a profecia, continuação do sermão, de que “Virá tempo, diz David, em que os Ethyopes (que sois vós) deixada a gentilidade e a idolatria, se hão-de ajoelhar diante do verdadeiro Deus” e “não baterão as palmas como costumam, mas fazendo oração, levantarão as mãos ao mesmo Deus” (303). Neste momento, como já havia feito no “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Hollanda,” Vieira dá aos seus compatriotas portugueses o lugar lugar mais importante nos desígnios de Deus, dizendo que as duas profecias:

"Cumpriram-se especialmente depois que os portuguezes 
conquistaram a Ethyopia occidental, e estão se cumprindo hoje mais e melhor que em nenhuma outra parte do mundo n’esta da America, aonde trazidos os mesmos Ethyopes em tão innumeravel numero, todos com os joelhos em terra, e com as mãos levantadas ao céo, crêem, confessam, e adoram no Rosario da da Senhora todos os mysterios da Encarnação, Morte e Resurreição do Creador e Redemptor do mundo…" (303).

Então, neste argumento, o que os portugueses fizeram não só já estava previsto na Bíblia, mas também participava de uma necessária melhoria especialmente para os negros. Que importava se, durante a travessia do Atlântico muitos haviam morrido de fome, de doenças contagiosas, de torturas infligidas pelos marinheiros portugueses?

Que diferença fazia, para o grande plano cristão, que muitos morriam de tristeza assim que chegavam ao Brasil? Quem deveria se preocupar se para muitos dos presentes a este sermão a vida de escravo era um constante martírio, tanto físico como espiritual? Estes negros que aqui estavam, Vieira repete, deviam lembrar-se sempre que a própria mãe de Jesus Cristo os havia escolhido especialmente por filhos, e que isso que “pode parecer desterro, captiveiro, e desgraça... não é senão milagre, e grande milagre” (305).

A argumentação do sermão, deste ponto em diante da parte VI, envereda por caminhos ainda mais bíblicos, tentando explicar a arbitrariedade divina, a preferência dos pais divinos por um filho e não o outro. Esaú e Jacó são trazidos à cena, explicando que um é amado, porque é amável, e o outro não é amado, porque não é amável. O ponto aqui é claro: é possível para um pai amar a um filho mais que ao outro, por nenhuma razão aparente. Esta retórica serviria para calar aqueles que talvez quisessem refutar este amor de Deus em face dos tratamentos bárbaros que os donos cristãos destes mesmos escravos lhes infligiam.

Por fim, Vieira repete que os escravos devem sentir-se privilegiados por terem sido escolhidos para serem cristãos. Infelizes são aqueles que permanecem na África, adorando seus falsos deuses, longe do cristianismo, sem a possibilidade da salvação.

Mas, como Vieira rapidamente esclarece, ser cristão exige certos sacrifícios. Já que, como ele havia explicado, o terem sido trazidos da África não foi sacrifício, mas uma grande honra, os negros não devem usar seus trabalhos como desculpa para não seguirem suas obrigações de cristãos e de devotos de Nossa Senhora.

É interessante, neste momento, como Vieira mostra estar consciente do dia a dia dos escravos, porque ele descreve detalhadamente seus trabalhos nas caldeiras do engenho e nos cômodos das casas. Embora o fim último seja para descartar o trabalho como insuficiente razão para não rezar o rosário várias vezes por dia, Vieira usa a oportunidade para dizer aos donos que eles também eram responsáveis pela devoção de seus escravos.

O que não deixa de soar incrível, para um leitor de nosso tempo, é que Vieira presenciou, em pessoa, o trabalho dos escravos. Ele viu e testemunhou seu sofrimento em primeira mão. Mas tudo isso ainda não lhe pareceu suficiente sequer para explicar ou justificar ou perdoar a um escravo que não cumprisse suas obrigações “de cristão” como se ele tivesse tempo e lazer para fazer suas orações várias vezes ao dia.

Isso se confirma no mesmo parágrafo onde, talvez pra evitar que os donos dos escravos pensassem que ele os estava censurando, Vieira volta às citações bíblicas para esclarecer que os negros eram, “filiis Coré” — filhos do Calvário.

Esta parte da gênese dos negros, que já havia sido explicada no início do sermão, agora vai ser expandida dessa maneira: “id est, imitatoribus in loco Calvariae crucifixi” (309). Vieira expande: “Não ha trabalho, nem genero de vida no mundo mais parecido á Cruz e Paixão de Christo, que o vosso em um d’estes engenhos” (309). E, se por acaso alguém pensar em usar esta situação como alavanca para conseguir um melhor tratamento, Vieira arremata:

“Bemaventurados vós se soubereis conhecer a fortuna do vosso estado, e com a conformidade e imitação de tão alta e divina similhança aproveitar e santificar o trabalho!” (309).

Parece-me óbvio que a intenção de Vieira, com esta última parte do parágrafo, torna-se não só clara mas documentada. Como imitadores do crucificado no Calvário, aos negros só lhes resta o papel de crucificados, torturados, vítimas inocentes, e silenciosas.

Aliás, seguindo o fio do pensamento de Vieira, o papel de crucificados não lhes deveria ser pesado, nem difícil, nem doloroso, mas deveriam ser felizes e agradecidos aos donos que lhes propiciavam tal ventura e possibilidade de alcançar a vida eterna.[14]

Que influência o conhecimento da existência dos quilombos que estavam começando a se formar na zona açucareira teria nos escravos deste engenho onde o sermão foi primeiramente proferido?

Vieira, como homem branco, e especialmente como homem branco da mesma classe social de onde vinham os senhores de engenho, certamente sabia da existência dos fugitivos e quilombolas.

Ele, como pregador, sabia muito bem do poder da palavra, e não podia arriscar que os escravos fossem “seduzidos” pela promessa de liberdade, ou de uma vida melhor nos quilombos, se acaso notícia da sua existência chegasse até os engenhos.

Seu sermão dizia aos negros que eles só tinham uma opção de felicidade e de vida eterna, e esta era de cumprir seu papel de filhos de Coré — filhos do Calvário, imitadores de Cristo na hora da sua tortura e da sua morte.

A doçura, o enobrecimento da realização deste papel e desta profecia devia subjugar qualquer outro prazer, qualquer outra alegria porque, se o Cristo “se gosava muito que o crucificassem” (313), como poderiam os negros rejeitar tão alto chamado?

Para eles, a paciência no sofrimento, a aceitação na tortura, e o agradecimento na morte estavam escritos muito antes deles terem vindo ao mundo, e portanto, não haveria nenhuma outra maneira de salvação.

Vieira chega a tal ponto na sua exaltação da sorte e felicidade dos negros escravos que, depois de uma descrição realista dos trabalhos e horrores das caldeiras de um engenho, insinua que ele os inveja: “n’essa triste servidão de miseravel escravo tereis o que eu desejava sendo rei” (318), e arremata que “mais inveja devem ter vossos senhores ás vossas penas, do que vós aos seus gostos, a que servis com tanto trabalho” (320).

Em seu livro as Américas e a civilização, publicado em 1969, o sociólogo Darcy Ribeiro sustenta que o Brasil, em seus inícios, não era uma nação, mas um entreposto de comércio, e “os interesses das castas dominantes queriam que ela continuasse desta maneira, latifundiária e escravocrata, e mais tarde latifundiária e ‘livre,’ mas sempre latifundiária e oligárquica” (208).

Naturalmente, para que os interesses destas castas dominantes se tornassem realidade em face da maioria de subjugados, vários elementos teriam que entrar em jogo. Um deles, o mais óbvio, foi o uso de força. De que outra maneira podemos compreender que navios inteiros de homens e mulheres fortes se deixassem dominar pelos portugueses que os arrebatavam ou compravam na África e os traziam para as terras do Brasil? Este comércio durou pelo menos duzentos e cinqüenta anos. Diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, a importação de africanos foi constante no Brasil até depois de meados do século XIX, e o contingente humano negro em muito ultrapassava o dos brancos.

Mas o uso da força bruta, além de dispendioso, podia representar a perda da mercadoria — ou seja, a morte dos negros. Darcy Ribeiro escreve que aproximadamente cem milhões de africanos foram trazidos para a América em quatrocentos anos, e mesmo levando-se em conta que a metade deles foram mortos durante a travessia (182), podemos afirmar que, em todos os momentos da história do Brasil precedendo a imigração massiva de europeus e asiáticos (especialmente japoneses) no fim do século XIX e começo do século XX, a população negra se constituía na maioria absoluta da população brasileira. Além da força bruta, a dominação dos negros — tantos os escravos como os libertos — se fez através da ideologia.

A igreja católica, como muitos já disseram, se encontrou na ponta de lança dessa ideologia. Não é de se admirar, por exemplo, que somente no dia 5 de maio de 1888 - oito dias antes da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel — o Papa Leo III tornou pública uma carta dando apoio à causa da libertação dos escravos do Brasil. Sobre este ponto, o abolicionista Joaquim Nabuco escreveu que a deserção do clero brasileiro de seu papel de defensor dos oprimidos tinha sido uma vergonha. Nabuco continua que o clero jamais tomou o lado dos escravos, e jamais usou a força da religião para aliviar o sofrimento dos negros (citado em Conrad, 1984, 153).

Neste ponto, é possível discordar de Nabuco, se levarmos em consideração o sermão de Vieira que vimos analisando. Quando Vieira conclama os escravos a não só aceitarem, mas a ficarem felizes com sua cruz, que está fazendo ele senão aliviando o sofrimento dos negros? Ademais, quando Vieira coloca os escravos como filhos diletos de Maria, aqueles que foram predestinados a serem filhos do Calvário, não está ele dando a eles um projeto de vida, um plano de salvação, e um significado para sua existência?

http://www.espacoacademico.com.br/036/36ebueno.htm



sábado, 12 de outubro de 2013

A Barca e seus simbolismos

Esperança do Amanhecer

Filha dos sonhos,
Corra abra a porta
Do velho carvalho.
Escute os seus segredos.
O poente se aproxima.
A vida se encaminha.
A felicidade está viva.
Dance até cair à última folha.

Pegue o galho dourado
E atravesse o portal.
Corra, o tempo voa,
Os Deuses estão aqui.
Pegue o galho prateado
E atravesse o portal.
A luz brilha sobre vocês.

Não desista, a Barca lhe espera.
As sementes novamente germinam
E os séculos despertaram o Rei.
Corra e abrace o seu sonho.
Toque o seu coração.
A tua mão o alcança.
Traga-o de volta.

Filhos da Arte e do amor.
A Senhora não mente
E aqui se faz presente.
Acredite na força da magia.
Abençoados sejam!


Rowena Arnehoy Seneween ®
poema pagão
 
 
Barca Egípcia

O livro Am-Tuat do antigo Egito descreve como o Rá o deus-sol morto atravessa as 12 estações infernais da noite (as 12 horas noturnas) e se transforma no Kheperâ, o escaravelho.

Na 10° estação, e na 12° estação ele sobe à Barca que trará o deus-Sol rejuvenescido de volta ao céu matinal...

Tendo o barco solar chegado até aqui, o deus Rá preparava-se para emergir das águas de Nun, a divindade que personifica as águas primordiais, novamente sob a forma de um disco que iluminaria os céus deste mundo.

Estando na água, o barco é mantido pelos braços do próprio deus Nun.

Rá aparece na embarcação sob a forma de um escaravelho que empurra um disco solar.

O escaravelho é um símbolo clássico de renascimento - e o emergir da escuridão também... a escuridão da ignorância para a Iluminação...

Anel com escaravelho - Museu do Egito


 
Barca em Alabastro e Ouro 



A Barca Grega...

Na mitologia grega, Hades é filho de Crono e Réia, Hades é retratado como um deus sombrio e invisível, mesmo tendo uma posição menos relevante que a de Zeus, possuía enorme poder, suas leis eram irrevogáveis, uma vez que dentro de seu reino, nem mesmo Zeus poderia interferir.

Tradicionalmente Hades é também o nome dado aos infernos dos gregos, que possui uma geografia muito bem definida:

O reino de Hades tem como principal entrada um bosque de álamos. Quando o morto aí chega conduzido por Hermes, recebe de seus parentes uma moeda que é posta debaixo de sua língua para pagar Caronte.

Caronte é o barqueiro que acompanhado por seu cão Cérbero, conduz as almas dos mortos pelo Estinge até o inferno, mas, velho e avarento, exige que o morto lhe dê uma moeda pelo transporte, sob pena dele ficar vagando por 100 anos nas margens do Estinge.

O Estinge rodeava 7 vezes o Hades – separando o reino dos mortos do reino dos vivos. Estinge significa “veneno”, mas, suas águas, ao mesmo tempo, tornam invulneráveis todos que nela se banham – foi onde Tétis banhou seu filho Aquiles, tornando-o invulnerável, exceto seu calcanhar por onde Tétis o segurou.

Estinge possui os afluentes:
1. Aquirom – que significa fluxo de angústia ou rio de Aflição
2. Cocytus ou Cocito – com águas muito lodosas e amargas e significa “lamentação”.
3. Flageton – do latim flagellu – que rolava em rodas de fogo e significa “queimar”.
4. Letes – do latim lethargie – significando letargia, sono profundo, torpor, incertezas e esquecimento.

Letes é o reino do abençoado esquecimento no qual a alma dos mortos submergem antes de voltarem ao mundo para uma nova encarnação.

Perséfone é a rainha do reino de Hades, esposa de Hades e filha de Deméter – a mãe Terra. Perséfone é a guardiã dos segredos dos mortos

Tártaro – é a parte do reino de Hades onde ocorrem as punições, que é determinada por três juízes,
1. Eaco – célebre por sua justiça,
2. Radamanto e
3. Minos – sábios legisladores e juízes, que são filhos de Zeus.

As Eríneas - filhas da Terra, são três irmãs – Tesífone, Alecto e Megera, são as divindades de Hades, viviam no Tártaro e tinham por missão punir os crimes dos homens. São as deusas da vingança, punindo aqueles que derramaram sangue ou quebraram juramentos. Retratadas com os cabelos entrelaçados por serpentes, tinham uma tocha em uma das mãos e em outra um punhal. Sua punição é a loucura. Ésquilo diz que elas são filhas de Nix – a deusa da Noite.

As Moiras, são três irmãs, também filas de Nix, são as Servas da Justiça Primordial, e as divindades do destino, elas regem a morte e a vida , são as grandes tecedeiras do destino de cada ser.
1. Cloto – tece os fios e preside os nascimentos.
2. Láquelis – faz girar a roda e mede os fios
3. Átropos – corta os fios.

Assim, a atividade da natureza, sua criação e formação engenhosa eram simbolizadas na fiação, no trançado e na tecelagem do destino humano, elas tecem nas profundezas a vida e a enviam para cima, e, na morte, tudo retorna a elas.

Hades, portanto, é um mundo completamente diferente do inferno cristão, lá é o lugar para onde os mortos são enviados para serem julgados, e também onde seus próximos destinos/vidas serão traçados ou tramados e de onde renascem para uma nova vida corpórea.

Daí a necessidade e o interesse de se pagar a Caronte para entrar no Hades - o reino dos mortos - a outra margem... muito semelhante a Avalon


A Barca Pagã

Antigos manuscritos irlandeses evocam alguns nomes para Avalon, são eles: Tir na Nog, o País da Juventude; Tir Innambeo, o País dos Viventes; Tir Tairngire, o País da Promessa; Tir Naill, o Outro Mundo; Mag Mar, a Grande Planície ou Mag Mell.

Entre as populações de origem céltica, a maçã representa o conhecimento, a revelação e a magia.

Existem vários relatos referentes às viagens célticas ao Além, Immram, as jornadas místicas, nas quais um herói é atraído por uma fada, que lhe entrega um ramo de maçã e o convida para ir para o Outro Mundo, como em A Viagem de Bran, Filho de Febal.

Num outro Immram, A Viagem de Maelduin, que trata da busca do herói pelos assassinos de seu pai, ele passa por uma ilha onde encontra uma macieira e dela corta um ramo com três maçãs. Estes frutos são capazes de saciar a sua fome e a de seus companheiros por quarenta dias sem ingestão de qualquer outro alimento. (Jean Markale, 1979:246)

A Ilha das Maçãs também recebe o nome de Ilha Afortunada porque ali há todo tipo de vegetação natural. As colheitas são abundantes e os bosques estão cobertos de maçãs e uvas. Avalon era governada por Morgana e suas nove irmãs, que também possuíam o dom da imortalidade. Avalon está associada a Caer Siddi, o Outro Mundo ou Annwn, a Terra dos Mortos e da Eterna Juventude.

Assim falou Morgana:
"A ilha sagrada de Avalon é linda e serena,
mas somente para aqueles que preservam a sinceridade no coração...

Onde está o caminho que nos leva de volta?
...Mas a vida empurra e a alma finalmente se liberta....
...Vou chamar a barca que me leva de volta, além das brumas...
Avalon se foi para nunca mais voltar
e apenas retornará se o canto novamente souber invocar!
Assim falou Morgana... "

Não é mera coincidência ter em Avalon a Árvore das Maçãs, que dão conhecimento, tal  e qual a antiga história da maçã de Eva... ambos alegorias são a mesma coisa... simbolizam a mesma coisa, apenas Eva e sua Maçã foram desfiguradas pela ICAR -

A Sabedoria sempre foi Sophia - feminino...
a contraparte do Conhecimento masculino
Pai-Mãe portanto
cujo filho é o Universo

e sabemos que o Catolicismos desfigurou o lugar da mulher desde sempre
a colocando como bruxa em suas fogueiras.



Braceletes e Pendentes com os Escaravelhos



Olho de Horus - Aquele que tudo vê




E... finalmente...

o Deus Egipcio Anúbis - a divindade do Inferno sobre uma Arca
é o psicopombo que leva as almas para o Inferno...
de que? - de Barco



Todas essas peças pertencem ao acervo do Museu do Cairo
e foram descobertas nas escavações no Vale dos Reis em 1922
e pertenciam a Tutankhamon



Em Doutrina Secreta vol.IV Blavatsky escreve o seguinte:

"El Arca, en la cual se conservan los gérmenes de todas las cosas vivas necesarias para volver a poblar la Tierra, representa la supervivencia de la vida, y la supremacía del espíritu sobre la materia, en el conflicto de los poderes opuestos de la naturaleza.

En el mapa astroteosófico del Rito Occidental, el Arca corresponde con el ombligo, y está colocada al lado izquierdo, el lado de la mujer (la Luna), uno de cuyos símbolos es la columna de la izquierda del templo de Salomón, Boaz.

El ombligo está relacionado (por medio de la placenta) con el receptáculo en donde se fructifican los embriones de la raza.

El Arca es el Argha sagrada de los indos, y así no es difícil inferir su relación con el Arca de Noé, teniendo en cuenta que el Argha era un vaso oblongo, usado por los sumos sacerdotes como cáliz sacrificador en el culto de Isis, Astarté y Venus–Afrodita, todas las cuales eran Diosas de los poderes generadores de la naturaleza, o de la materia; y por tanto, representaban simbólicamente al Arca que contenía los gérmenes de todas las cosas vivas .

7. La “Cámara del Rey” en la Pirámide de Cheops es, pues, un “Sagrario de Sagrarios” egipcio. En los días de los Misterios de la Iniciación, el Candidato que representaba el Dios Solar tenía que descender dentro del Sarcófago, y representar el rayo vivificador penetrando en la matriz fecunda de la Naturaleza.

Al salir de él a la mañana siguiente, tipificaba la resurrección de la Vida después del cambio llamado Muerte. En los grandes MISTERIOS, su “muerte” figurada duraba dos días, levantándose con el Sol a la tercera mañana, después de una última noche de la más crueles pruebas. Al paso que el Postulante representaba al Sol –el orbe que todo vivifica, que “resucita” todas las mañanas para comunicar vida a todo– el Sarcófago era el símbolo del principio femenino.

Así era en Egipto; su forma y figura cambiaba en cada país, pero permaneciendo siempre como un barco, una “nave” simbólica o un vehículo en forma de bote, y un recipiente, simbólicamente, de los gérmenes o el germen de la vida.

En la India es la Vaca “de oro” por la cual tiene que pasar el candidato al brahmanismo si desea ser un brahman y convertirse en un Dvi–ja, “nacido por segunda vez”.

El Argha en forma de media luna de los griegos era el tipo de la Reina del Cielo, Diana o la Luna. Ella era la Gran Madre de todas las Existencias, así como el Sol era el Padre.

Los judíos, tanto antes como después de su metamorfosis de Jehovah en un Dios macho, rendían culto a Astoreth, lo cual hizo decir a Isaías:

“Vuestras lunas nuevas y… fiestas odia mi alma”

dicho evidentemente injusto. Astoreth y las Fiestas de la Luna Nueva (el Argha en creciente), no tenía un significado peor, como forma de culto público, que el que tenía el sentido oculto de la Luna en general, el cual, en sentido kabalístico, estaba relacionado directamente con Jehovah, como es bien sabido; con la sola diferencia, sin embargo, de que uno era el aspecto femenino y el otro el masculino de la Luna, y de la estrella Venus.

3. Archê (!Arch>) en este sentido corresponde al Rasit hebreo o la sabiduría… una palabra qué significaba el emblema del poder generativo femenino, el Arg o Arca, en la cual se suponía que el germen de toda naturaleza flotaba o se cernía sobre el gran abismo durante el intervalo que tenía lugar después de cada ciclo del mundo.

4. Así es, en efecto; y el Arca de la Alianza judía tenía precisamente el mismo significado, con la adición suplementaria de que, en lugar de un sarcófago casto y bello (símbolo de la Matriz de la Naturaleza y de la Resurrección), como en el Sanctasanctórum de los paganos, habían hecho el Arca aún más realista en su construcción por los dos Querubines colocados, frente a frente, sobre el cofre o Arca de la Alianza, con las alas abiertas de tal manera, que formaban un Yoni perfecto (como se ve ahora en la India).

5. Además de esto, este símbolo generador tenía su significado reforzado por las cuatro letras místicas del nombre de Jehovah, a saber I H V H (hvhy) Jod (y), significando el membrum virile; Hé (h), la matriz; Vau (v), un garfio o gancho, un clavo, y Hé (h) de nuevo significando también “una abertura”. El total formaba el emblema o símbolo perfecto bisexual o I (e) H (o) V (a) H, el símbolo macho y hembra.

8. La ceremonia de pasar por el Santo de los Santos –simbolizado ahora por la Vaca, pero en el principio por el templo Hiranyagarbha, el Huevo Radiante, en sí mismo símbolo de la Naturaleza Abstracta Universal– significaba la concepción y nacimiento espiritual, o más bien el renacimiento del individuo y su regeneración; el hombre encorvado a la entrada del Sanctasanctórum, pronto a pasar por la de la Madre Naturaleza, o la criatura física pronta para volver a convertirse en el Ser Espiritual original, el HOMBRE pre–natal.

Entre los semitas, este hombre encorvado significaba la caída del Espíritu en la Materia, y de esta caída y degradación hacían apoteosis, con el resultado de arrastrar a la Deidad al nivel del hombre.

Para los arios, el símbolo representaba el divorcio del Espíritu de la Materia, la vuelta a la Fuente primordial y la sumersión en ella; para el semita, el connubio del Hombre Espiritual con la Naturaleza Femenina Material, lo fisiológico sobreponiéndose a lo psicológico y puramente inmaterial.

Los puntos de vista arios sobre el simbolismo eran los de todo el mundo pagano; las interpretaciones semíticas emanaban, y eran eminentemente propias de una tribu pequeña, marcando así sus rasgos nacionales y los defectos idiosincrásicos que caracterizan a muchos judíos hasta hoy día...


 

tópico original da comunidade da Barca do Orkut

por Rita Candeu - 25/12/2008

Caldeirões e seus simbolismos...

Cerridwen, a porca branca, é reverenciada em Avalon como a Deusa Anciã. É a Deusa da transformação, cujo o caldeirão devemos adentrar para renascer. É a lavadeira do rio e a feiticeira, na face escura da Lua como Cailleach, e aqueles que não a entendem, geralmente a temem.

O caldeirão é o Graal para curar todos os males, que reaviva os mortos e cura os enfermos, no Outro Mundo. Cerridwen vive ao lado de um lago, em Avalon, sendo a detentora do Caldeirão da morte e do renascimento.

Avalon está associada a Caer Siddi, o Outro Mundo ou Annwn, a Terra dos Mortos e da Eterna Juventude.

Existia em Caer Siddi uma fonte onde jorrava vinho doce e onde envelhecimento e doença eram desconhecidos.

Entre os seus tesouros havia um caldeirão mágico, tema diretamente ligado à abundância existente na Ilha das Maçãs. (Ellis, 1992: 25; Geoffroy de Monmouth, Vita Merlini e Jean Markale, L'épopée Celtique en Bretagne).

Na mitologia céltica existem dois tipos de caldeirão: o caldeirão do renascimento e o caldeirão da abundância.

Dagda, pai de todos os Deuses, possuía um caldeirão proveniente da cidade de Múrias. Ao provar dele, ninguém passava fome, (Ellis, 1992:77).

Já Matholwch recebera o caldeirão do renascimento do Deus Bran e com ele era possível ressuscitar um morto, mas que perdia a capacidade de falar.


Havia ainda um terceiro caldeirão entre os celtas, o caldeirão do sacrifício, no qual os maus monarcas eram jogados.

É possível observar aqui, um sentido totalmente diferente dado à figura régia, que tem principalmente a tarefa de estabilizar a sociedade e que é descartada quando não cumpre bem suas funções.

O monarca é mais um “moderador ou distribuidor de riquezas que um detentor de poderes civis e militares”.

Representa um garantidor da abundância, sendo o rei que sobrecarrega os súditos de impostos, sacrificado, afogado numa tina de cerveja ou hidromel. (Le Roux e Guyonvarc'h, 1993:63)

essa lei bem que podia ser adotada né?... que acham? hehehehehe




O tema do caldeirão, mais tarde, deu origem ao mito do Graal, inicialmente nas obras de Chrétien de Troyes. Com a sua cristianização em fins do século XII, o conteúdo do cálice passou a ser o sangue de Cristo na cruz. Sangue, o conhecimento, o alimento da alma.

O Graal está relacionado à Pedra Filosofal, à Fênix e ao Caldeirão. O símbolo da Grande Mãe, a taça, o receptáculo da Deusa.

Analisando por esse princípio, Avalon é, com certeza, o seu representante direto, sendo suas sacerdotisas, as guardiãs dos segredos do caldeirão ou os segredos da tríplice divina. Esse é um assunto bastante polêmico, mas de grande importância, pois sua essência está ligada diretamente à descendência do sangue real ou ao despertar da consciência.

Podemos dizer que é o reencontro da unidade cósmica dentro do nosso templo sagrado, a nossa “sancta sanctorum”, ou seja, a nossa alma transmutando para uma nova realidade espiritual. Que assim seja!



E  todos  os demais caldeirões de todos os povos - índigenas e ciganos e orientais - possuem os mesmo significados... idêntico do acima descrito...

Esse é um Patrimônio da Humanidade que sempre existiu em todos os povos, religiões e nações...

Blavatsky afirma que não houve um único "fundador" de alguma religião.. o que os líderes religiosos - tais como Moisés - fizeram foi apenas traduzir para o entendimento de seu povo Tradições muito antigas... talvez mais antigas do que a própria Terra...

No I Ching - livro oracular milenar da China - também tem o seu Ting - Caldeirão - o Hexagrama n°50 - ali encontramos o seguinte texto:

"....O Caldeirão representa a superestrutura cultural da sociedade... Tudo o que é visível deve se expandir para além de si mesmo, até penetrar no âmbito do invisível. Desse modo alcança sua verdadeira consagração e clareza, enraizando-se fimemente na ordem cósmica...

... O Ting serve para oferenda de sacrifício a Deus. Os mais elevados valores terrenos devem ser oferecidos e sacrifício a Deus...
 

(aqui fica explicito que o Ting é um utensílio sagrado de cerimonial)

Nada transforma as coisas tanto quanto o Ting.

As transformações ocasionadas pelo Ting são por um lado as mudanças sofridas pelos alimentos ao cozinharem ...

o Ting significa a acolhida do novo... (e) também significa transformação..."


 Aqui o simbolismo se repete

O Ting é ao mesmo tempo

1 - objeto cerimonial - onde é preparado o alimento para os homens dignos - que podemos definir como aqueles que recebem além do alimento físico o espiritual, uma espécie de Iniciação - onde o adepto recebe o Conhecimento

2 - e de transformação que é o produto por assim dizer da Iniciação e conquista do Saber... o adepto se transforma ou transmuta-se em outro ser após obter o conhecimento...

Isso fica muito evidente ao longo da descrição das 6 linhas que compões o hexagrama.
nas linhas :
1° - o Ting está emborcado - não contendo conteúdo algum... aqui o Ting está sendo limpo dos refugos...

2° - há alimento no Ting mas o individuo não compartilha co os outros

3° - aqui as alças do Ting estão invertidas e então é impedido que o conteúdo seja servido... simbolizando alguém que apesar do conhecimento não é notado

4° - O Ting está com as pernas quebradas e a refeição é derramada... aqui uma advertência quanto à responsabilidade da tarefa onde o empenho deverá ser edobrado

5° - Aqui o Ting aparece com argolas de ouro -

6° - Aqui o Ting tem argolas de Jade- significando o sábio que aconselha - um Iniciado já realizado portanto...

Esses simbolismos de Graal, Ventre, Caldeirão, Cálice e Barca são sempre muito semelhantes... são todos veículos de Trasmutação que permitem alcançar a outra margem... isto é... Nirvana, Céu, Avalon, Plenitude, Iluminação, etc...

São simbolismos de Renascimento Espiritual

Ah! sim! havia me esquecido...

Barca - Arca de Noé ou Arca da Aliança - mesmo simbolismo...

todos que tocavam a Arca eram mortos ....

A Barca temos a de Caronte de Osires e das Sacerdotizas de Avalon - sempre carregando os mortos...

Vou fazer outra postagem sobre "a Barca"

e deixo aqui esse poema:


Filhos das Estrelas


Salve Filhos das Estrelas Brilhantes,
Vindos nas asas de Erin, pelas bênçãos de Dannan!
Mestres da magia, ouçam o nosso chamado,
Mostre-nos a pedra do destino, a Lia Fáil

Pela espada de Nuada, seja a justiça equilibrada
Nas verdades da Deusa e do Deus.
E que a lança de Lugh, o Brilhante,
Nos dê a vitória sobre o orgulho desmedido.

Que o caldeirão da transformação do Grande Dagda,
Possa nos renovar todos os dias,
Abençoando-nos com sua fartura e bem-aventurança.

Pela triqueta sagrada, se apresentem hábeis filhos,
Os Tuatha De Danann, pelo código de honra ao teu povo!
Tanto nos montes e nas florestas abaixo da terra,
Assim como, toda a terra acima de toda a terra.

Se façam presentes em nós, para que vossa sabedoria,
Possa nos levar adiante no propósito maior,
No principio da tua mais perfeita criação,
Em benefício de toda a humanidade.

Que a luz brilhe na escuridão e o amor guie os corações,
Na esperança do amanhecer, a eterna promessa.
Dos Filhos das Estrelas Brilhantes!

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