segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Consciente x Inconsciente.

O Dr. Jung define a base somática do ‘Eu’, constituída por fatores conscientes e inconscientes. Segundo ele, o ‘Eu’ funciona como que o centro da consciência, sendo o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa, de todos os esforços de adaptação etc.

“A consciência é, em primeiro lugar, um órgão de orientação em um mundo de fatos exteriores e interiores...” diz Jung

1. Sensação – que constata que algo existe, é uma percepção geral, “Nós vemos, ouvimos, apalpamos e cheiramos o mundo, e assim temos consciência do mundo. Estas percepções sensoriais nos dizem que algo existe fora de nós. Mas ela não nos diz o que isto seja em si... sua natureza é menos psíquica do que fisiológica.”

2. Pensamento – “... Uma outra faculdade interpreta o que foi percebido. Denomino-a pensamento. Graças a esta função o objeto da percepção é assimilado e transformado muitíssimo mais em conteúdos psíquicos do que através da mera sensação.”

3. Sentimento – “... Uma terceira faculdade constata o valor do objeto. A esta função do valor dou o nome de sentimento... O sentimento coloca o sujeito e o objeto em tão estreita relação, que o sujeito deve escolher entre a aceitação e a recusa.”

4. Intuição – “Esta é uma função de percepção que compreende o subliminar, isto é, a relação possível com objetos que não aparecem no campo da visão, e as mudanças possíveis, tanto no passado como no futuro, a respeito das quais o objeto nada tem a nos dizer. A intuição é uma percepção imediata de certas relações que não podem ser constatadas pelas outras três funções no momento da orientação.”< “... Só há uma diferença essencial entre o funcionamento consciente e o funcionamento inconsciente da psique: a consciência, apesar de sua intensidade e de sua concentração, é puramente efêmera e orientada para o presente imediato e seu próprio ambiente. Além disso, ela só dispõe, pela própria natureza, de materiais da experiência individual, que recobre apenas alguns decênios. Outra espécie de memória é artificial e consiste essencialmente em papel impresso.

O Inconsciente
"Quão diferente é o inconsciente! Não é concentrado nem intensivo, mas crepuscular até à obscuridade. É extremamente extensivo e pode justapor paradoxalmente os elementos mais heterogêneos possíveis, e encerra, além de uma quantidade incalculável de percepções subliminares, o tesouro imenso das estratificações depositadas no curso das vidas dos ancestrais que, apenas com sua existência, contribuíram para a diferenciação da espécie.

Se o inconsciente pudesse ser personificado, assumiria os traços de um ser humano coletivo, à margem das características de sexo, à margem da juventude e da velhice, do nascimento e da morte, e disporia da experiência humana quase imortal de um a dois milhões de anos.

Este ser pairaria simplesmente acima das vicissitudes dos tempos.
O presente não teria para ele nem maior nem menor significação do que um ano qualquer do centésimo século antes de Cristo; seria um sonhador de sonhos seculares e, graças à sua prodigiosa experiência, seria um oráculo incomparável de prognósticos.

Ele teria vivido, com efeito, um número incalculável de vezes, a vida do indivíduo, da família, das tribos e dos povos e possuiria o mais profundo sentimento do ritmo do devir, da plenitude e do declínio das coisas.”

“Infelizmente, ou antes afortunadamente, este ser sonha... Parece também que este ser coletivo não é uma pessoa, mas antes uma espécie de corrente infinita ou quiçá um oceano de imagens e de formas que irrompem, às vezes, na consciência por ocasião dos sonhos ou estados mentais anormais.”

O Dr. Jung explica que a consciência pode ser explicada como sendo o foco de uma lanterna em quarto escuro, só o que está sendo iluminado é percebido, aquilo que não “aparece” e que não tomamos conhecimento é o inconsciente, mas, nem por isso é inexistente.

Isto nos remete diretamente a todos os conceito sobre o "esquecimento" das vidas passadas e sua possível recordação...
< DI – 382
“O inconsciente não se identifica simplesmente com o desconhecido; é antes o psíquico desconhecido, ou seja, tudo aquilo que, supostamente, não se distinguiria dos conteúdos psíquicos conhecidos...


Assim definido, o inconsciente retrata um estado de coisas extremamente fluido:
tudo o que eu sei, mas em que não estou pensando no momento;
tudo aquilo que um dia eu estava consciente,
mas de que atualmente estou esquecido;
tudo o que meus sentidos percebem,
mas minha mente consciente não considera;
tudo o que sinto, penso, recordo, desejo e faço involuntariamente e sem prestar atenção; todas as coisas futuras que se formam dentro de mim e somente mais tarde chegarão à consciência;tudo isto são conteúdos do inconsciente.

Estes conteúdos são, por assim dizer,
mais ou menos capazes de se tornarem conscientes,
ou pelo menos foram conscientes e no momento imediato podem tornar-se conscientes de novo.

Neste sentido, o inconsciente é a fringe of consciouness (uma franja da consciência), como o caracterizou, outrora, Willian James.”

Falando a respeito do campo da consciência diz James:
DI – 382

“O fato importante que lembra a fórmula deste ‘campo’ é a indeterminação da margem. Apesar da pouca atenção com que percebemos o material contido dentro dessa margem, ele existe e nos ajuda ao mesmo tempo a guiar nosso comportamento e a determinar o próximo movimento de nossa atenção. Ele nos circunda como um ‘campo magnético’ no interior do qual nosso centro de energia gira como uma agulha de uma bússola, à proporção que a fase presente se converte na seguinte. Todo o nosso acervo de recordações passadas se transfunde para além da margem, pronto para invadir o ‘campo’ do menor toque, e toda a massa de forças, impulsos e conhecimentos residuais que constituem nosso Si-mesmo* empírico se espraia continuamente para além da margem. Por mais vagas que sejam as linhas de separação entre o que é real e o que é virtual a qualquer momento de nossa vida consciente, é sempre difícil dizer se temos consciência ou não de certos elementos mentais.”


*Psicologicamente, o Si-mesmo é a unificação do consciente e do inconsciente, constituindo a totalidade psíquica.

O que é a Psique?

DI - 441
"...A psique não é um caos feito de caprichos e de casualidades, mas uma realidade objetiva, à qual os pesquisadores podem chegar pelos métodos das Ciências naturais. Há indícios que os processos psíquicos guardam uma relação energética com o substrato fisiológico. Como se trata de acontecimentos energéticos, eles só podem ser interpretados como processos energéticos, ou, embora seja impossível medir os processos psíquicos, só podemos conceber as mudanças perceptíveis produzidas pela psique como fenômeno energético....

...a Psicologia insiste em empregar seu conceito próprio de energia para exprimir a atividade da alma, evidentemente não utiliza uma fórmula matemática aplicável à Física, mas sua analogia...

... Na Psicologia, a medição exata das quantidades é substituida por uma determinação aproximativa das intensidades... As intensidades psíquicas e suas diferenças gradativas apontam para processos quantitativos que são, entretanto, inacessíveis à observação ou à medição diretas....

Se essas qualidades pudessem ser medidas, a psique nos apareceria como algo que se localiza e se movimenta no espaço, como alguma coisa à qual se poderia aplicar a fórmula da energia...

Por isto, como a massa e a energia são da mesma natureza, a massa e a velocidade deveriam ser conceitos adequados à psique, porque esta produz efeitos observáveis no espaço, ou, em outras palavras: ela deveria possuir um aspecto sob o qual aparecesse como uma massa em movimento.

Caso não se queira postular uma harmonia preestabelecida com relação aos fenômenos físicos e psíquicos, resta apenas a alternativa de uma interação. Mas esta hipótese exige uma psique que toca a matéria em qualquer ponto e, inversamente, uma matéria com uma psique latente..."

DI - 660
"A convicçõa moderna ... conduziu, em última análise, a uma "Psicologia sem alma", isto é, a uma psicologia onde a atividade psiquica nada mais é do que um produto bioquímico... Ninguém, atualmente, poderia ousar fundar uma Psicologia científica sobre o postulado de uma alma autônoma e independente do corpo.

A idéia de um espírito subsistente em si mesmo, de um sistema cósmico fechado, que seria a premissa necessária à existência de almas individuais autônomas, é extremamente impopular, pelo menos entre nós..."

DI - 661
"... A impopularidade de semelhante empreendimento não deve assustar-nos, porque a hipótese do espírito não é mais fantástica do que a da matéria. Não possuindo a mínima idéia de como o psíquico possa emenar do físico, e sendo o psíquico um fato inegável da experiência, te,os a liberdade de inverter as hipóteses, ao menos nesse caso, e supor que a psique provém de um princípio espiritual tão inacessível quanto a matéria...

Na verdade essa Psicologia não poderá ser moderna, porque moderno é negar essa possibilidade. Por isto, quer queiramos quer não, devemos remontar à doutrina de nossos ancestrais sobre a alma, porque foram eles que conceberam semelhantes hipóteses."

DI- 662
"Segundo a velha concepção, a alma era especialmente a vida do corpo, o sopro de vida, uma espécie de força vital que entrava na ordem física, espacial, durante a gravidez, o nascimento ou concepção, e de novo abandonava o corpo moribundo com o último suspiro. A alma em si era um ser que não participava do espaço e, sendo anterior e posterior à realidade corporal, situava-se à margem do tempo, gozava praticamente da imortalidade..."

DI - 669
"A idéia de imortalidade da alma, por inaudita que nos pareça, nada tem de surpreendente para o empirismo primitivo. Não há dúvida que a alma é algo estranho. Ela não é localizável no espaço, embora tudo o que existe ocupe um espaço.

Na verdade, achamos que nossos pensamentos se situam na cabeça mas, quando se trata dos sentimentos, mostramo-nos inseguros, porque parecem que eles residem mais na região do coração. Nossas sensações estão destribuidas por todo o corpo. Nossa teoria sustenta que a sede da consciência está na cabeça. Os índios Pueblos, porém, me diziam que os americanos eram loucos, porque pensavam que suas idéias se achavam na cabeça, ao passo que toda pessoa de juízo sadio pensa com o coração...."

DI - 670
"A esta incerteza quanto à localização espacial acrescenta-se uma outra dificuldade, qual seja o fato de que os conteúdos psíquicos assumem um aspecto não-espacial, logo que se distanciam da esfera da sensação. Que medida de comprimento podemos aplicar aos pensamentos? São pequenos, grandes, longos, delgados, pesados, líquidos...?

...Se procurarmos uma representação viva para uma entidade de quatro dimensões e que esteja, consequentemente, à margem do espacial, o melhor modelo que se nos apresenta é o pensamento."

DI- 671
"Tudo seria, portanto, muito mais fácil, se fosse possível negar a existência da psique. Mas aqui nos defrontamos com a experiência mais imediata de algo existencial, implantado na realidade de nosso mundo tridimensional, mensurável e ponderável, e que, sob todos os pontos de vista e em cada um de seus elementos, é espantosamente diferente dessa realidade embora ao mesmo tempo a reflita...

A alma poderia ser, ao mesmo tempo, um ponto matemático e possuir as dimensões do universo, das estrelas fixas. Não podemos antipatizar-nos com a intuição primitiva segundo a qual uma entidade tão paradoxal toca o divino.

Se a alma não ocupa espaço, é incopórea. Os corpos morrem, mas o que é invisível e inextenso pode deixar de existir?..."

DI - 672
"Compreenderemos facilmente que a antiga concepção tenha atribuído à alma um conhecimento superior e mesmo divino, se consideramos que culturas antigas,... utilizaram sempre os sonhos e as visões como fonte de conhecimento. Com efeito, o inconsciente dispõe de percepções subliminares cujo espectro e extenção toca as raias do maravilhoso. Por reconhecerem este estado de coisas, ... utilizaram os sonhos e as visões como importante fontes de informações, e sobre esta base psicológica elevaran-se antiquissimas e poderosas culturas, como a hindu e a chinesa, que desenvolveu filosófica e praticamente até os mínimos detlhes, a via do conhecimento interior."

DI - 673
"A apreciação da psique inconsciente como fonte de conhecimentos não é, de forma nenhuma, tão ilusória como nosso racionalismo ocidental pretende. Nossa tendência é supor que qualquer conhecimento vem do exterior.Mas hoje sabemos com certeza que o inconsciente possui conteúdos que se pudessem tornar-se conscientes, constituiriam um aumento imenso de conhecimento...."

mais adiante voltaremos ao assunto.


DI - 421
"... A Física... está em condições de fazer explodir fómulas matemáticas ...(e) matar setenta e oito mil pessoas de uma só vez.

DI - 422
"... a Psicologia pode lembrar, com toda humildade, que o pensamento matemático é também uma função psíquica graças à qual a matéria pode ser organizada de tal maneira que os átomos ligados por tremendas forças explodem, o que jamais lhes aconteceria segundo a ordem natural, pelo menos na forma como se apresentam.

A psique é um fator de perturbação das leis do cosmo, e se algum dia conseguíssemos causar algum dano à Lua, através da fissão atômica, isto seria obra da psique."

DI - 423
" A psique é o eixo do mundo; e não é só uma das grandes condições para a exoistência do mundo, em geral, mas constitui uma interferência na ordem natural existente, e ninguém saberia dizer com certeza onde esta interferência terminaria afinal.... devemos ressaltar, com tanto maior ênfase, que uma alteração, por menor que seja, em um fator psíquico, se é uma alteração de princípio, é da maior importância para o conhecimento do mundo da imagem que temos dele..."

DI - 428
"Daqui se infere que a psique, quando perde o equilíbrio, não somente perturba a ordem natural, mas destrói a própria criação...."

Sobre o desprendimento da psique

Esses textos foram retirados do livro do Dr. Jung - A Dinâmica do Inconsciente da Editora Vozes - que abreviei com a sigla DI seguida do número do parágrafo como aparece no livro.

É portanto uma abordagem científica (Dr. Jung é um médico mesmo sendo acusado por muitos de ser um místico) sobre o que é a Mente ou Psique, em seu sentido real apesar de não físico.


DI 937 - ...Devemos renunciar inteiramente à idéia de uma psique ligada a um cérebro e lembrarmos, ao contrário, do comportamento “significativo” ou “inteligente” dos organismos inferiores desprovidos de cérebro. Aqui nos encontramos mais próximos do fator formal que, como dissemos, nada tem a ver com a atividade cerebral.

DI 938 - ...A suposição de uma relação causal entre a psique e o corpo nos conduz, por outro lado, a conclusões que dificilmente quadrariam com a experiência: ou há processos psíquicos que dão origem a acontecimentos psíquicos, ou há uma psique pré-existente que organiza a matéria. No primeiro caso é difícil ver como processos químicos sejam jamais capazes de produzir processos psíquicos, e, no segundo caso, de que modo uma psique imaterial poderá colocar a matéria em movimento...




W.Y.Evans-Wentz em “O Livro Tibetano da Grande Libertação”
(que fala sobre o Budismo Tibetano) escreve o seguinte:

“Não devemos pensar na mente como alguma coisa tangível, tal como os desorientados materialistas pensam, ao confundirem a substância cerebral com a mente. Na sua manifestação humana, a mente é uma energia invisível capaz de por em atividade o cérebro físico, assim como uma vibração invisível põe em atividade um rádio. O cérebro ativado dessa maneira, fornece o pensamento, e o rádio o som. O som é apenas o produto do impulso vibratório ao qual o rádio responde. Da mesma maneira, o pensamento produzido pelo cérebro é o produto do impulso vibratório comunicado ao cérebro por uma consciência invisível, que , per se, é incognoscível... e se não houver nenhum pensamento, não pode existir uma coisa tal como esse que os homens chamam de objeto material. A menos que um inventor pense e depois dê substância à invenção, não existe invenção alguma...”



Voltando a Jung:

DI 939 – Talvez valha a pena examinar mais de perto certas experiências que parecem revelar a existência de processos psíquicos naquilo que comumente se considera como um estado inconsciente.

Penso aqui, sobretudo, nas observações notáveis, feitas durante síncopes profundas decorrentes de lesões cerebrais graves. Contra todas as expectativas, uma lesão craniana grave nem sempre implica a correspondente perda de consciência.

Ao observador, a pessoa que sofreu a lesão parece apática, paralisada, “em transe” e subjetivamente privada dos sentidos, porém a consciência não se acha extinta. A comunicação sensorial com o mundo exterior acha-se grandemente limitada, mas nem sempre é completamente suprimida, embora o barulho de guerra, por ex., possa ceder repentinamente o lugar a um “silêncio” solene.

Neste estado, ocorre uma sensação muito nítida e impressionante de alucinação ou levitação: a pessoa ferida tem a impressão de que se eleva no ar na mesma posição que se encontrava no momento em que recebeu o ferimento...

Ocasionalmente, tem a impressão de que o espaço circundante se eleva também, como por exemplo, toda a casamata em que estava naquele determinado momento.

A altura da levitação pode ir de meio metro a vários metros. Perde-se a sensação de peso. Em alguns casos, o ferido acredita que executa movimentos de natação com os braços...

Durante a levitação, a disposição interior é predominantemente eufórica: “sublime, solene, lindo, celestial, relaxante, feliz, despreocupado, excitante”, são as palavras usadas para descrever este estado. É uma espécie de “experiência de ascensão aos céus”.

Jantz e Beringer ressaltam que o ferido pode despertar de sua síncope mediante estímulos notavelmente muito leves, como por exemplo, quando chamado pelo nome ou tocado, ao passo que o mais violento barulho de guerra não produz efeito."


DI 940 - ...Eu gostaria de mencionar um caso tomado de minha própria experiência médica:

Uma paciente, ... contou-me que seu primeiro parto foi muito difícil... O parto foi realizado sob ligeira narcose, e acompanhado de ampla ruptura do períneo e grande perda de sangue...


já no quarto e consciente a paciente sofre uma síncope..
e segue o relato da paciente sobre o acontecido:

Tinha a sensação de que mergulhava, leito adentro, num vazio sem fundo. Ainda pode notar que a enfermeira correu para o seu leito, pegou-lhe a mão e tomou-lhe o pulso. Pela maneira como ele movimentava os dedos, para lá e para cá, a paciente concluiu que o pulso evidentemente tornara-se quase imperceptível.

Como se sentia muito bem, ela se divertia com o susto da enfermeira. Ela própria não tinha o menor medo. Foi a última coisa de que pôde se lembrar por um espaço de tempo que não sabia calcular.

A próxima coisa que tomou consciência foi que, sem sentir seu corpo e a posição que jazia, ela olhava para baixo, de algum ponto situado junto ao teto do quarto, e podia ver tudo o que se passava no recinto, abaixo dela: via a si mesma deitada na cama, mortalmente pálida, de olhos fechados. A enfermeira estava em pé a seu lado. O médico andava agitado... sem saber realmente o que fazer.

Seus familiares chegaram até à porta. Sua mãe e seu marido entraram e contemplavam assustados. A paciente dizia a si mesma que era uma estupidez o fato deles pensarem que ela estava morrendo...


Em todo esse tempo, ela sabia que havia por trás dela uma paisagem magnífica, semelhante a um parque... com grama cortada rente, que descia suavemente por uma encosta, em direção a um portão de ferro, através do qual se podia entrar no parque...

O parque lhe dava a impressão de ser uma floresta onde pé humano jamais pisara. “Eu sabia que ali estava a entrada para outro mundo e que, se eu me voltasse, para olhar diretamente o espetáculo, eu me sentiria tentada a atravessar a porta e, assim, sair da vida”...

Sentia que nada a impediria de atravessar o portão e entrar no parque. Sabia apenas que estava voltando ao corpo e não morreria. Por isso achava que a agitação do médico e dos parentes eram estúpidas e descabidas.

DI 941 – A próxima coisa que aconteceu foi ela despertar de seu estado de coma, ver sua enfermeira, que se debruçava sobre seu leito. Disseram-lhe, então, que estivera inconsciente por quase meia hora.

No dia seguinte, quinze horas depois, quando já se sentia mais forte... descreveu detalhadamente o que havia se passado durante seu desmaio... exatamente da maneira como se haviam passado na realidade.


DI 942 – Podemos supor que se tratava simplesmente de um estado crepuscular psicogênico em que uma parte da consciência dividida continuava em funcionamento.

Entretanto, a paciente nunca fora histérica, mas sofrera um verdadeiro colapso cardíaco, acompanhado de uma síncope resultante de uma anemia cerebral... Ela estivera realmente desmaiada e, consequentemente, deve ter tido um obscurecimento psíquico completo, tornando-se completamente incapaz de qualquer observação exata e de qualquer julgamento.

Curioso é que não se tratava de uma percepção imediata da situação mediante observação indireta e inconsciente; ela via toda a situação a partir de cima, como se seus “olhos estivessem no teto”, como ela significativamente explicou.

DI 943 – Na realidade, não é fácil explicar que tais processos psíquicos inusitadamente intensos podem ocorrer em estado de colapso grave e ser lembrados depois, e como o paciente pode observar acontecimentos reais em seus detalhes concretos, com os olhos fechados.

Segundo todos os pressupostos, era de se esperar que uma anemia cerebral tão definida afetasse notavelmente ou mesmo impedisse a ocorrência de processos psíquicos tão altamente complexos.


DI 944 – Sir Auckland Geddes apresentou à Royal Medical Society, em 27 de fevereiro de 1927, um caso muito parecido, no qual, porém, a ESP* ia muito além.

Durante o estado de colapso, o paciente observou que ocorria a dissociação de sua consciência integral com relação à consciência corporal, tendo esta última se resolvido gradualmente em suas componentes orgânicas. A outra consciência possuía uma ESP verificável.

(* ESP – Percepção Extra Sensorial )


DI 945 – Estas experiências parecem mostrar que nos estados de síncope nos quais, segundo todos os padrões de julgamento humano, há plena certeza de que a atividade da consciência e sobretudo as percepções sensoriais estão suspensas, a consciência, as idéias reproduzíveis, os atos de julgamento e as percepções podem continuar a existir contra todas as expectativas.

A sensação de levitação que ocorre nestas ocasiões, bem como a alteração do ângulo de visão e a extinção da audição e das percepções cinestésicas indicam uma mudança da localização da consciência, uma espécie de separação do corpo ou do córtex cerebral ou cérebro, onde se supõe esteja a sede dos fenômenos consciente."




Jung foi a primeira pessoa a conhecer e divulgar a cor azul do planeta Terra.
Na sua autobiografia, ele relata que, após um ataque do coração, teve uma experiência de quase-morte (obtendo, assim, uma expansão de consciência semelhante a uma saída do corpo) e constatou, deslumbrado, a coloração azul da Terra, o vermelho-amarelado do deserto do Saara, ou o verde-ferrugem dos continentes.

Tudo isso em 1944, 17 anos antes do primeiro homem ir ao espaço!

O Inconsciente - o Eu desconhecido

Consciente x Inconsciente.

O Dr. Jung define a base somática do ‘Eu’, constituída por fatores conscientes e inconscientes. Segundo ele, o ‘Eu’ funciona como que o centro da consciência, sendo o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa, de todos os esforços de adaptação etc.

“A consciência é, em primeiro lugar, um órgão de orientação em um mundo de fatos exteriores e interiores...” diz Jung

DI - 673
Quão diferente é o inconsciente! Não é concentrado nem intensivo, mas crepuscular até à obscuridade. É extremamente extensivo e pode justapor paradoxalmente os elementos mais heterogêneos possíveis, e encerra, além de uma quantidade incalculável de percepções subliminares, o tesouro imenso das estratificações depositadas no curso das vidas dos ancestrais que, apenas com sua existência, contribuíram para a diferenciação da espécie. Se o inconsciente pudesse ser personificado, assumiria os traços de um ser humano coletivo, à margem das características de sexo, à margem da juventude e da velhice, do nascimento e da morte, e disporia da experiência humana quase imortal de um a dois milhões de anos. Este ser pairaria simplesmente acima das vicissitudes dos tempos. O presente não teria para ele nem maior nem menor significação do que um ano qualquer do centésimo século antes de Cristo; seria um sonhador de sonhos seculares e, graças à sua prodigiosa experiência, seria um oráculo incomparável de prognósticos. Ele teria vivido, com efeito, um número incalculável de vezes, a vida do indivíduo, da família, das tribos e dos povos e possuiria o mais profundo sentimento do ritmo do devir, da plenitude e do declínio das coisas.”

DI – 674
“Infelizmente, ou antes afortunadamente, este ser sonha... Parece também que este ser coletivo não é uma pessoa, mas antes uma espécie de corrente infinita ou quiçá um oceano de imagens e de formas que irrompem, às vezes, na consciência por ocasião dos sonhos ou estados mentais anormais.”

DI – 382
“O inconsciente não se identifica simplesmente com o desconhecido; é antes o psíquico desconhecido, ou seja, tudo aquilo que, supostamente, não se distinguiria dos conteúdos psíquicos conhecidos...

Assim definido, o inconsciente retrata um estado de coisas extremamente fluido:
tudo o que eu sei, mas em que não estou pensando no momento;
tudo aquilo que um dia eu estava consciente,
mas de que atualmente estou esquecido;
tudo o que meus sentidos percebem,
mas minha mente consciente não considera;
tudo o que sinto, penso, recordo, desejo e faço involuntariamente e sem prestar atenção;

todas as coisas futuras que se formam dentro de mim e somente mais tarde chegarão à consciência;

tudo isto são conteúdos do inconsciente.

Estes conteúdos são, por assim dizer,
mais ou menos capazes de se tornarem conscientes,
ou pelo menos foram conscientes e no momento imediato podem tornar-se conscientes de novo...."

DI - 702
"A psicanálise freudiana consiste erssencialmente em uma técnica que nos permite reconduzir à consciência os chamados conteúdos reprimidos que se tornaram inconscientes...

Por outro lado, ... o inconsciente não é apenas um mero receptáculo, mas a matriz daquelas coisas das quais a consciência gostaria de selibertar. Mas podemos dar um passo adiante e dizer que o incosnciente cria também conteúdos novos.

Tudo o que o espírito humano criou, brotou de conteúdos que, em última análise, eram germe inconscientes....

A melhor maneira talvez de compreender o inconsciente é considerá-lo como um órgão natural dotado de uma energia criadora específica..."

DI - 713
Por isso, se me perguntarem qual é a coisa mais essencial que a Psicologia analítica poderia acrescentar à nossa cosmovisão, eu responderia que é o reconhecimento de que existem conteúdos inconscientes que fazem exigência inegáveis ou irradiam influências com as quais a consciência terá de se defrontar, quer queira ou não.

DI - 717
Se a mente humana viessa ao mundo como uma perfeita tabula rasa, estes problemas não existiriam, porque então a mente não conteria nada que não houvesse sido adquirido ou implantado nela.

Mas a psique humana contém inúmeras coisas que nunca foram adquiridas, porque a mente humana não nasceu como uma tabula rasa, nem cada homem possui um cérebro inteiramente novo e único....

DI - 719
Assim o homem nasce com sua complicada predisposição psíquica que é tudo menos uma tabula rasa....

DI - 720
"...Todos os conteúdos de nossa consciência foram adquiridos individualmente. Se a psique humana consiste única e exclusivamente na consciência, nada haveria de psíquico que não tivesse surgido no curso da vida individual..."



Aqui eu necessito de fazer um aparte, colocando a minha visão e entendimento sobre o assunto:

O Dr, Jung diz que há uma herança psíquica à qual ele chama de o inconsciente coletivo, dessa forma ele tenta explicar "como" uma criança já nasce com tendência, gostos e conhecimentos.... que permanecem em grande parte inconscientes...

É claro que ele como cientista e médico teria que lançar mão de
termos e conceitos para explicar certas pedras de tropeço, por assim dizer, sem entrar na idéia da reencarnação.

Herança psíquica - é nada mais nada menos do que o acúmulo de impressões e experiências que carregamos em nossas "várias existências" e, portanto, não nascemos como uma perfeita tabula rasa

continuando com o Dr. Jung....


DI - 720
.."Se não houvesse o inconsciente coletivo *, a educação poderia conseguir tudo; poderíamos reduzir impunemente o homem a uma máquina
psíquica, ou transformá-lo em um ideal. Mas todos esses esforços encontram fortes limitações, porque há dominantes do inconsciente que põem exigências quase que impossíveis de realização."


*(lembrar do adendo acima)
Aqui fica evidente o fato do quanto somos diferentes e "individuais"... é só lembrar de famílias onde irmãos apresentam comportamentos diversos apesar da educação e influências recebidas serem absolutamente idênticas....


DI - 729
"... o inconsciente coletivo não é, de maneira alguma, um ângulo obscuro, mas o poderoso depósito das experiências ancestrais acumuladas ao longo de mulhões de anos, o eco dos acontecimentos pré-históricos ao qual cada século acrescenta uma parcela infinitamente pequena de variações e de diferenciações.

Como o incosnciente é o depósito do processo cósmico que espelha, em última análise, na estrutura do cérebro e do sistema nervoso simpático, ele constitui, em sua totalidade, uma espécie de imagem intemporal e como eterna do mundo que se contrapões à nossa visão consciente e momentânea do mundo..."



Pois é ... Jung era médico... um homem da ciência... e foi duramente
acusado de misticismo pela comunidade científica...

Na realidade, ele se aproxima por demais do conceito de reencarnação em todos os seus escritos sobre o inconsciente, mas, como cientista não poderia ele nunca declarar-se reencarnacionista sem "provar cientificamente" a reencarnação... percebe a saia justa em que ele se encontrava?

Até hoje há essa mesma necessidada da "prova científica" onde muitos pensam já ter sido mais do que provado enquanto outros negam toda e qualquer prova cientifica váilda...

E a herança é psíquica e não genética no sentido físico de DNA .........

Jung afirma que a psique é algo que se estende pelo espaço...


coloco a opinião de Jung:

DI 937 - ...Devemos renunciar inteiramente à idéia de uma psique ligada a um cérebro e lembrarmos, ao contrário, do comportamento “significativo” ou “inteligente” dos organismos inferiores desprovidos de cérebro. Aqui nos encontramos mais próximos do fator formal que, como dissemos, nada tem a ver com a atividade cerebral.

DI 938 - ...A suposição de uma relação causal entre a psique e o corpo nos conduz, por outro lado, a conclusões que dificilmente quadrariam com a experiência: ou há processos psíquicos que dão origem a acontecimentos psíquicos, ou há uma psique pré-existente que organiza a matéria. No primeiro caso é difícil ver como processos químicos sejam jamais capazes de produzir processos psíquicos, e, no segundo caso, de que modo uma psique imaterial poderá colocar a matéria em movimento...
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