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Tradução do artigo escrito por Ian O’Neill na Universe Today em 3 de outubro de 2008
Não apenas notaremos uma rápida redução na força do campo magnético como também nós veremos como os pólos magnéticos irão reverter rapidamente sua polaridade, isto é, o pólo norte magnético se deslocará para o pólo sul geográfico e vice-versa. Então, o que tal cenário significa para nós? Se nós acreditarmos nos falsos profetas do apocalipse, estaremos então expostos a vastas quantidades de radiação emitida pelo Sol em 2012.
Com uma inversão do campo magnético terrestre também haverá um enfraquecimento na capacidade da Terra em desviar os raios cósmicos.
Nossa armada de satélites de comunicação e militares sofrerá graves problemas, tais como a queda em suas órbitas, adicionando caos ao cenário.
Sofreremos distúrbios sociais, guerras, fome e um colapso econômico global. Sem GPS, nossas linhas aéreas também se arrebentarão contra o solo…
Usando as Profecias Maias como desculpa para criar novas e explosivas formas nas que nosso planeta poderá ser destruído em 2012, os profetas do apocalipse usam a teoria do deslocamento geomagnético como se a mesma fosse uma verdade absoluta e inquestionável.
Essa atitude é simplesmente devida ao fato que os cientistas estimaram que mudanças na polarização magnética terrestre talvez pudessem acontecer dentro de alguns milhares de anos.
Para os falsos profetas, todavia, tal parece evidência suficiente de que ocorrerá nos próximos quatro anos. Desgraçadamente, embora a teoria das migrações nos pólos magnéticos tenha real respaldo científico, como veremos mais a frente aqui, não há hoje nenhuma forma ou técnica com a qual alguém possa afirmar que uma inversão geomagnética terá lugar nos próximos dias ou nos próximos milhões de anos…
Primeiro, devemos diferenciar os conceitos de “inversão geomagnética” e “mudança polar”.
A “inversão geomagnética” é uma mudança no campo magnético da Terra que se dá quando o pólo norte magnético desloca-se para o pólo sul geográfico e vice-versa. Quando tal processo se completar as nossas bússolas passariam a apontar para Antártida, no pólo-sul geográfico, como o sendo o pólo norte ao invés do nordeste do Canadá.
Por por outro lado, as “mudanças polares” (a mudança física dos pólos geográfficos) são eventos incomparavelmente menos freqüentes, que provavelmente ocorreram raríssimas vezes dentro escala de tempo do Sistema Solar (cerca de 4,55 bilhões de anos).
Há exemplos de planetas que sofreram uma mudança polar catastrófica: Vênus (que gira na direção oposta do resto dos planetas por ter sido golpeado por um evento descomunal, tal como uma colisão com um planeta errante – veja as razões aqui em “Qual a razão do movimento retrógrado de Vênus?“) e Urano (o qual gira de lado, com seu eixo deslocado por um impacto cataclísmico, ou algum efeito gravitacional extremo causado por Júpiter e Saturno). Muitos autores (incluindo os próprios profetas do apocalipse) citam freqüentemente esses dois cenários notadamente distintos, inversão geomagnética e mudança polar, como sendo a mesma coisa, o que está totalmente errado. Tendo esclarecido esse ponto, vamos então tratar a seguir do cenário: “inversão geomagnética“.
Qual é a freqüência das ocorrências do fenômeno da inversão geomagnética?
Vejamos a seguir…
As razões inerentes à inversão dos pólos magnéticos não são plenamente entendidas, mas esse cenário se relaciona tão somente à dinâmica interna do planeta Terra.
Conforme nosso planeta gira, o núcleo interior de ferro fundido flui livremente, forçando os elétrons livres a acompanhar sua movimentação. Este movimento convectivo de partículas eletricamente carregadas cria um campo magnético que tem seus pólos situados nas regiões polares norte e sul (um dipolo) do planeta. Isto é conhecido como o efeito dínamo. O campo magnético resultante se comporta aproximadamente como um ímã, permitindo que o campo magnético envolva o nosso planeta.
Este campo magnético passa através do núcleo até a crosta terrestre e segue até o espaço formando a magnetosfera, uma bolha protetora que é constantemente perturbada pelo vento solar.
Uma vez que as partículas do vento solar são iônicas (carregadas eletricamente), a potente magnetosfera da Terra desvia essas partículas, só permitindo sua chegada nas cúspides polares, onde as linhas do campo magnético se “abrem”. Nessas regiões específicas as partículas energéticas tem sua entrada permitida e brilham formando as auroras.
Normalmente, esta situação pode durar por éons (o campo magnético estável entrelaçado através das regiões polares norte e sul), mas sabemos que ocasionalmente o campo magnético terrestre se inverte e altera sua intensidade.
Por que ocorre a inversão geomagnética?
Simplesmente nós não conhecemos as causas reais. O que sabemos é que estas mudanças de pólos magnéticos têm ocorrido algumas vezes nos últimos milhões de anos.
A última reversão teve lugar há 780.000 anos, de acordo com as evidências mostradas nos sedimentos ferromagnéticos. Alguns artigos alarmistas têm dito que as inversões geomagnéticas ocorrem com uma “regularidade de um relógio” – isto simplesmente é mentira.
Como se pode ver no diagrama (acima), as inversões magnéticas têm acontecido de forma bastante caótica nos últimos 160 milhões de anos. Os dados de longo prazo sugerem que o período mais longo de estabilidade entre inversões magnéticas durou quase 40 milhões de anos (durante o período Cretáceo que tem cerca de 65 milhões de anos) e o mais curto demorou algumas centenas de anos.
Algumas teorias do apocalipse em 2012 sugerem que a inversão geomagnética da Terra está conectada com o ciclo solar natural do Sol de 11 anos. De novo, não existe nenhuma evidência científica que apóie esta afirmação. Não há nenhuma informação disponível que associa alguma ligação da mudança de polaridade magnética da Terra com o Sol.
Assim, novas versões das teorias do apocalipse já estão falando que as inversões geomagnéticas não acontecem com a “regularidade de um relógio”, e não existe conexão com a dinâmica solar.
Na verdade, não se espera uma inversão magnética dado que não podemos predizer quando se produzirá a próxima, as inversões magnéticas têm lugar em pontos aparentemente aleatórios de nossa história, conforme os registros históricos de levantamentos geológicos dos sedimentos ferromagnéticos.
O que causa a inversão geomagnética?
A pesquisa para tentar compreender a dinâmica de nosso planeta continua em andamento. Conforme a Terra gira, o ferro fundido de seu interior é agitado e flui de forma estável durante milênios. Por alguma razão durante uma inversão magnética, algumas instabilidades causam uma interrupção da geração estável do campo magnético global, provocando uma mudança de pólos.
Em um artigo anterior na Universe Today, discutimos os esforços do geofísico Dan Lathrop por criar o seu próprio “Modelo da Terra“, configurando uma bola de 26 toneladas (que continha um elemento análogo do ferro fundido, o sódio) que girava para se ver se o movimento do fluido interno poderia gerar um campo magnético. Este enorme experimento de laboratório é o testamento dos esforços postos na compreensão de como a Terra gera seu campo magnético além da razão do mesmo se inverter aleatoriamente.
Uma visão minoritária (a qual, novamente, tem sido usada pelos profetas do apocalipse para vincular as inversões geomagnéticas com o Planeta X) é que pode haver algumas influências externas que causem as inversões.
Você verá com freqüência associações destas afirmações com a suposta existência do Planeta X/Nibiru, de forma que quando este misterioso objeto se encontrar dentro o Sistema Solar interior durante sua órbita altamente elíptica, a perturbação do campo magnético poderia alterar a dinâmica interna da Terra (e do Sol, gerando possivelmente a tempestade solar “assassina”).
Esta teoria é uma fraca vontade de vincular os cenários dos falsos profetas do apocalipse com um precursor comum do ‘fim do mundo‘ (quero dizer, o Planeta X). Não há razão para pensar que o potente campo magnético da Terra possa ser influenciado por qualquer força externa, muito menos por um planeta inexistente.
A força do campo magnético cresce e decresce…
Publicou-se recentemente um artigo contendo novas investigações sobre o campo magnético da Terra, no exemplar de 26 de setembro da revista Science, sugerindo que o campo magnético da Terra não é tão simples como se acreditava. Além do dipolo norte-sul, existe um campo magnético mais débil e disperso por todo o planeta, provavelmente gerado no núcleo externo da Terra.
Têm-se medido variações de força no campo magnético da Terra e é bem conhecido o fato de que a força do campo magnético atual está passando por uma fase com tendência de redução.
O novo artigo de pesquisa, co-escrito pelo geocronólogo Brad Singer da Universidade de Wisconsin, sugere que um campo magnético mais débil é crítico para a inversão geomagnética.
Se o dipolo mais potente (norte-sul) tem sua força de campo magnético reduzida para um nível inferior de intensidade, comparada com a do campo magnético distribuído, normalmente mais débil, a inversão geomagnética torna-se viável.
“O campo nem sempre é estável, a convecção e a natureza do fluxo se alteram, e isto pode provocar que o dipolo gerado aumente ou diminua de intensidade e força”, disse Singer.
“Quando o campo magnético se torna fraco, este fica menos capaz de alcançar a superfície da Terra e o que começamos a ver surgindo é este dipolo não axial, a parte mais fraca do campo magnético”.
O grupo de pesquisa de Singer analisou amostras antigas de lava de vulcões no Taiti e Alemanha originadas entre 500.000 até 700.000 anos atrás. Observando um mineral rico em ferro presente nessa lava, denominado magnetita, os investigadores foram capazes de deduzir a direção do campo magnético.
O giro dos elétrons na magnetita é governado pelo campo magnético predominante na ocasião que a lava foi produzida pelos vulcões.
Durante as épocas em que o potente campo dipolar domina, estes elétrons apontam na direção do pólo norte magnético.
Durante as épocas em que o campo dipolar se enfraquece, os elétrons apontam para onde estiver o campo dominante, neste caso o campo magnético distribuído.
Os cientistas acreditam que quando a intensidade do campo magnético dipolar debilitado cai abaixo de certa faixa de valores, o campo magnético distribuído empurra o campo dipolar para fora do seu eixo original, provocando uma inversão geomagnética.
“O campo magnético é uma das características mais fundamentais da Terra”, disse Singer. “Mas ainda é um dos maiores enigmas da ciência. A razão disso acontecer [a inversão geomagnética] é algo que a gente tem questionado durante mais de cem anos”.
Os errantes pólos magnéticos
Embora pareça haver uma tendência atual para uma diminuição da força do campo magnético, a intensidade corrente do campo magnético tem sido considerada acima da média quando a comparamos com as variações medidas na história recente.
De acordo com os pesquisadores na Scripps Institution of Oceanography , São Diego, se o campo magnético continuar na sua tendência de queda atual, o campo dipolar será efetivamente zerado em cerca de 500 anos.
Não obstante, é mais provável que a força do campo magnético simplesmente se reinicie e aumente sua intensidade como tem sido usual nos últimos milhares de anos, continuando com suas flutuações naturais.
As posições dos pólos magnéticos, como sabemos, estão dando voltas sobre as localidades no Ártico e na Antártida. Tomando o pólo norte magnético, por exemplo, (no desenho da esquerda) vê-se que a posição do pólo tem se descolado de forma acelerada sobre as planícies do norte de Canadá com velocidade variando de 10 quilômetros por ano no século XX até 40 quilômetros por ano em medições mais recentes.
Pensa-se que se esta tendência persistir o eixo norte irá deixar a América do Norte e penetrar na Sibéria dentro de algumas décadas. Este, todavia, não é um fenômeno novo. Desde a descoberta de James Clark Ross da posição efetiva do pólo norte magnético em 1831, sua posição tem vagado por centenas de quilômetros (embora as médias atuais tenham mostrado alguma aceleração adicional).
Então, haverá ou não o ‘Fim do Mundo’ ?
As inversões geomagnéticas são uma área fascinante da pesquisa geofísica que continuará ocupando os físicos e geólogos durante muitos anos à frente. Embora a dinâmica por trás deste evento não seja entendida por completo, não há absolutamente nenhuma evidência científica que apóie a afirmação de que poderia haver uma inversão geomagnética em torno de 21 de dezembro de 2012.
Além disso, os efeitos de tais inversões têm sido totalmente super enfatizados. Se por acaso venhamos a experimentar uma inversão geomagnética ao longo de nossas vidas (o que possivelmente não acontecerá), é improvável que sejamos assados vivos pelo vento solar ou aniquilados pelos raios cósmicos.
É improvável que soframos qualquer evento de extinção massiva (afinal, o homem primitivo, o homo erectus, sobreviveu à última inversão geomagnética, aparentemente sem sofrer danos).
Provavelmente iremos experimentar a visão de auroras em todas as latitudes, enquanto o campo magnético dipolar se assenta em seu novo estado invertido, e poderá haver um pequeno incremento no bombardeio das partículas energéticas espaciais, os raios cósmicos (lembre-se que o simples enfraquecimento da magnetosfera, não implicará que não iremos mais ter a proteção magnética). Fora isso, nós estaremos (muito bem) protegidos pela nossa espessa atmosfera.
Os satélites poderão até passar por falhas e os pássaros migratórios ficarão
confusos, mas prever a ocorrência de um colapso mundial é uma história difícil de engolir.
Conclusão:
- As inversões geomagnéticas são de natureza caótica. Não há forma de prevê-las com antecedência.
- Simplesmente porque o campo magnético da Terra se enfraquece tal não significa que estamos perto do momento de um colapso. O valor da intensidade do campo geomagnético da Terra está “acima da média” se comparamos as medidas atuais com as dos últimos milhões de anos.
- Os pólos magnéticos não estão fixos em umas posições geográficas, os pólos se movem (em velocidades variáveis) e tal movimento têm acontecido desde que se iniciaram as medidas de seus comportamentos.
- Não existem provas que apontem para uma força externa afetando a dinâmica geomagnética interna da Terra. Assim, não há nenhuma prova de uma conexão das inversões geomagnéticas com as do ciclo solar. E não venham falar do Planeta X também…
Considerando tudo isso, podemos acreditar que haverá um evento de inversão geomagnética em 2012? Eu julgo que não.
De novo vemos como outro cenário apocalíptico de 2012 fala de muitas formas. Não há dúvida que as inversões geomagnéticas terão lugar algum dia no futuro da Terra, mas estamos falando de escalas de tempo variando de otimistas 500 anos (improvável) até milhões de anos e certamente não nos próximos quatro anos…
Fontes e referências
AstroPT: 2012 – Fim do MundoEternos Aprendizes:
- 2012: Don Yeomans, cientista da NASA e coordenador do programa NEO, explica o que não vai acontecer em 2012
- Seth Shostak do instituto SETI fala sobre o tema 2012 e comenta o filme
- 2012: Dr. Neil deGrasse Tyson fala sobre o tema e explica sobre o alinhamento galáctico
- 2012: Não haverá tempestade solar assassina
- 2012: Não haverá inversão dos pólos magnéticos da Terra
- 2012: Não Haverá o ‘Fim do Mundo’
- 2012: Não haverá Planeta X
- 2012: o Planeta X não é Nibiru
- 2012: Não haverá nenhum cometa assassino, Nibiru ou Planeta-X
- A procura pelo planeta X vai ganhar um reforço extra do observatório Pan-STARRS
Se é fato ou não, já está sendo anunciado em jornais pelo mundo sobre o polo magnético norte estar se afastando quarenta milhas por ano.
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