quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cristianismo - A Inquisição em seu mundo

No livro - Cristianismo - A Inquisição em seu mundo de 
JOÃO BERNARDINO GONZAGA
Editora Saraiva, 1993.

encontramos o seguinte:


"...De modo especial, o senso metafísico dos medievais se revelava na valorização da alma e dos bens espirituais. Tão grande era o amor à fé (esteio da vida espiritual) que se considerava
a deturpação da fé pela heresia como um dos maiores crimes que o homem pudesse cometer (2).

Nota de rodapé - (2) E esta concepção que explica o seguinte texto de São Tomás de Aquino:
"E muito mais grave corromper a fé, que é a vida da alma, do que falsificar a moeda, que é o meio de prover à vida temporal. Se, pois, os falsificadores de moedas e outros malfeitores são, a bom direito, condenados à morte pelos príncipes seculares, com muito mais razão os hereges, desde que sejam comprovados tais, podem não somente ser excomungados, mas também em toda justiça ser condenados à morte' ' (Suma Teológica II-Il, 11, 3c);

essa fé era tão viva e espontânea que dificilmente se admitia viesse alguém a negar com boas intenções um só dos artigos do Credo.

Isto não quer dizer que os medievais, fossem insensíveis ou bárbaros.
Dentro da sua fidelidade à verdade e das suas categorias culturais, procuravam cultivar a justiça e a benevolência. Um dos textos mais típicos a propósito é o retrato do Inquisidor traçado por Bernardo de Gui (século XIV), tido como um dos mais severos
inquisidores:

"O inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá à cólera nem à indignação. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo
até a morte; todavia não precipite as situações por causa da audácia irrefletida. Deve ser insensível aos rogos e às propostas daqueles que o querem aliciar; mas também não deve endurecer o seu coração a ponto de recusar adiamentos e abrandamentos das
penas conforme as circunstâncias.

Nos casos duvidosos, seja circunspecto; não dê fácil crédito ao que parece provável, e muitas vezes não é verdade; também não rejeite obstinadamente a opinião contrária,
pois o que parece improvável, freqüentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e
a crueldade" (Prática VI, Douis 232s).

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