segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre o desprendimento da psique

Esses textos foram retirados do livro do Dr. Jung - A Dinâmica do Inconsciente da Editora Vozes - que abreviei com a sigla DI seguida do número do parágrafo como aparece no livro.

É portanto uma abordagem científica (Dr. Jung é um médico mesmo sendo acusado por muitos de ser um místico) sobre o que é a Mente ou Psique, em seu sentido real apesar de não físico.


DI 937 - ...Devemos renunciar inteiramente à idéia de uma psique ligada a um cérebro e lembrarmos, ao contrário, do comportamento “significativo” ou “inteligente” dos organismos inferiores desprovidos de cérebro. Aqui nos encontramos mais próximos do fator formal que, como dissemos, nada tem a ver com a atividade cerebral.

DI 938 - ...A suposição de uma relação causal entre a psique e o corpo nos conduz, por outro lado, a conclusões que dificilmente quadrariam com a experiência: ou há processos psíquicos que dão origem a acontecimentos psíquicos, ou há uma psique pré-existente que organiza a matéria. No primeiro caso é difícil ver como processos químicos sejam jamais capazes de produzir processos psíquicos, e, no segundo caso, de que modo uma psique imaterial poderá colocar a matéria em movimento...




W.Y.Evans-Wentz em “O Livro Tibetano da Grande Libertação”
(que fala sobre o Budismo Tibetano) escreve o seguinte:

“Não devemos pensar na mente como alguma coisa tangível, tal como os desorientados materialistas pensam, ao confundirem a substância cerebral com a mente. Na sua manifestação humana, a mente é uma energia invisível capaz de por em atividade o cérebro físico, assim como uma vibração invisível põe em atividade um rádio. O cérebro ativado dessa maneira, fornece o pensamento, e o rádio o som. O som é apenas o produto do impulso vibratório ao qual o rádio responde. Da mesma maneira, o pensamento produzido pelo cérebro é o produto do impulso vibratório comunicado ao cérebro por uma consciência invisível, que , per se, é incognoscível... e se não houver nenhum pensamento, não pode existir uma coisa tal como esse que os homens chamam de objeto material. A menos que um inventor pense e depois dê substância à invenção, não existe invenção alguma...”



Voltando a Jung:

DI 939 – Talvez valha a pena examinar mais de perto certas experiências que parecem revelar a existência de processos psíquicos naquilo que comumente se considera como um estado inconsciente.

Penso aqui, sobretudo, nas observações notáveis, feitas durante síncopes profundas decorrentes de lesões cerebrais graves. Contra todas as expectativas, uma lesão craniana grave nem sempre implica a correspondente perda de consciência.

Ao observador, a pessoa que sofreu a lesão parece apática, paralisada, “em transe” e subjetivamente privada dos sentidos, porém a consciência não se acha extinta. A comunicação sensorial com o mundo exterior acha-se grandemente limitada, mas nem sempre é completamente suprimida, embora o barulho de guerra, por ex., possa ceder repentinamente o lugar a um “silêncio” solene.

Neste estado, ocorre uma sensação muito nítida e impressionante de alucinação ou levitação: a pessoa ferida tem a impressão de que se eleva no ar na mesma posição que se encontrava no momento em que recebeu o ferimento...

Ocasionalmente, tem a impressão de que o espaço circundante se eleva também, como por exemplo, toda a casamata em que estava naquele determinado momento.

A altura da levitação pode ir de meio metro a vários metros. Perde-se a sensação de peso. Em alguns casos, o ferido acredita que executa movimentos de natação com os braços...

Durante a levitação, a disposição interior é predominantemente eufórica: “sublime, solene, lindo, celestial, relaxante, feliz, despreocupado, excitante”, são as palavras usadas para descrever este estado. É uma espécie de “experiência de ascensão aos céus”.

Jantz e Beringer ressaltam que o ferido pode despertar de sua síncope mediante estímulos notavelmente muito leves, como por exemplo, quando chamado pelo nome ou tocado, ao passo que o mais violento barulho de guerra não produz efeito."


DI 940 - ...Eu gostaria de mencionar um caso tomado de minha própria experiência médica:

Uma paciente, ... contou-me que seu primeiro parto foi muito difícil... O parto foi realizado sob ligeira narcose, e acompanhado de ampla ruptura do períneo e grande perda de sangue...


já no quarto e consciente a paciente sofre uma síncope..
e segue o relato da paciente sobre o acontecido:

Tinha a sensação de que mergulhava, leito adentro, num vazio sem fundo. Ainda pode notar que a enfermeira correu para o seu leito, pegou-lhe a mão e tomou-lhe o pulso. Pela maneira como ele movimentava os dedos, para lá e para cá, a paciente concluiu que o pulso evidentemente tornara-se quase imperceptível.

Como se sentia muito bem, ela se divertia com o susto da enfermeira. Ela própria não tinha o menor medo. Foi a última coisa de que pôde se lembrar por um espaço de tempo que não sabia calcular.

A próxima coisa que tomou consciência foi que, sem sentir seu corpo e a posição que jazia, ela olhava para baixo, de algum ponto situado junto ao teto do quarto, e podia ver tudo o que se passava no recinto, abaixo dela: via a si mesma deitada na cama, mortalmente pálida, de olhos fechados. A enfermeira estava em pé a seu lado. O médico andava agitado... sem saber realmente o que fazer.

Seus familiares chegaram até à porta. Sua mãe e seu marido entraram e contemplavam assustados. A paciente dizia a si mesma que era uma estupidez o fato deles pensarem que ela estava morrendo...


Em todo esse tempo, ela sabia que havia por trás dela uma paisagem magnífica, semelhante a um parque... com grama cortada rente, que descia suavemente por uma encosta, em direção a um portão de ferro, através do qual se podia entrar no parque...

O parque lhe dava a impressão de ser uma floresta onde pé humano jamais pisara. “Eu sabia que ali estava a entrada para outro mundo e que, se eu me voltasse, para olhar diretamente o espetáculo, eu me sentiria tentada a atravessar a porta e, assim, sair da vida”...

Sentia que nada a impediria de atravessar o portão e entrar no parque. Sabia apenas que estava voltando ao corpo e não morreria. Por isso achava que a agitação do médico e dos parentes eram estúpidas e descabidas.

DI 941 – A próxima coisa que aconteceu foi ela despertar de seu estado de coma, ver sua enfermeira, que se debruçava sobre seu leito. Disseram-lhe, então, que estivera inconsciente por quase meia hora.

No dia seguinte, quinze horas depois, quando já se sentia mais forte... descreveu detalhadamente o que havia se passado durante seu desmaio... exatamente da maneira como se haviam passado na realidade.


DI 942 – Podemos supor que se tratava simplesmente de um estado crepuscular psicogênico em que uma parte da consciência dividida continuava em funcionamento.

Entretanto, a paciente nunca fora histérica, mas sofrera um verdadeiro colapso cardíaco, acompanhado de uma síncope resultante de uma anemia cerebral... Ela estivera realmente desmaiada e, consequentemente, deve ter tido um obscurecimento psíquico completo, tornando-se completamente incapaz de qualquer observação exata e de qualquer julgamento.

Curioso é que não se tratava de uma percepção imediata da situação mediante observação indireta e inconsciente; ela via toda a situação a partir de cima, como se seus “olhos estivessem no teto”, como ela significativamente explicou.

DI 943 – Na realidade, não é fácil explicar que tais processos psíquicos inusitadamente intensos podem ocorrer em estado de colapso grave e ser lembrados depois, e como o paciente pode observar acontecimentos reais em seus detalhes concretos, com os olhos fechados.

Segundo todos os pressupostos, era de se esperar que uma anemia cerebral tão definida afetasse notavelmente ou mesmo impedisse a ocorrência de processos psíquicos tão altamente complexos.


DI 944 – Sir Auckland Geddes apresentou à Royal Medical Society, em 27 de fevereiro de 1927, um caso muito parecido, no qual, porém, a ESP* ia muito além.

Durante o estado de colapso, o paciente observou que ocorria a dissociação de sua consciência integral com relação à consciência corporal, tendo esta última se resolvido gradualmente em suas componentes orgânicas. A outra consciência possuía uma ESP verificável.

(* ESP – Percepção Extra Sensorial )


DI 945 – Estas experiências parecem mostrar que nos estados de síncope nos quais, segundo todos os padrões de julgamento humano, há plena certeza de que a atividade da consciência e sobretudo as percepções sensoriais estão suspensas, a consciência, as idéias reproduzíveis, os atos de julgamento e as percepções podem continuar a existir contra todas as expectativas.

A sensação de levitação que ocorre nestas ocasiões, bem como a alteração do ângulo de visão e a extinção da audição e das percepções cinestésicas indicam uma mudança da localização da consciência, uma espécie de separação do corpo ou do córtex cerebral ou cérebro, onde se supõe esteja a sede dos fenômenos consciente."




Jung foi a primeira pessoa a conhecer e divulgar a cor azul do planeta Terra.
Na sua autobiografia, ele relata que, após um ataque do coração, teve uma experiência de quase-morte (obtendo, assim, uma expansão de consciência semelhante a uma saída do corpo) e constatou, deslumbrado, a coloração azul da Terra, o vermelho-amarelado do deserto do Saara, ou o verde-ferrugem dos continentes.

Tudo isso em 1944, 17 anos antes do primeiro homem ir ao espaço!

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