Se abres a tua porta ao mendigo
e o mandas sentar,
não o repreendas por ele não ser diferente.
Não o julgues.
Porque aquilo que ele mais tinha fome
era de se achar em qualquer parte,
em casa de alguém,
com seu ar desajeitado,
com sua bagagem de recordações,
com sua respiração difícil
e com sua bengala encostada a um canto.
Tinha fome de se sentir acolhido
pelo calor e pela paz do teu rosto,
em harmonia com todo o seu passado...
com a sua muleta,
que ele já não sente,
pois tu não lhe pedes para dançar.
E então ele se tranqüiliza,
e bebe o leite que tu vazas,
e come o pão que lhes cortas,
e o sorriso que lhes concede
é capote tão morno como o sol para um cego.
Acharias desonroso sorrir-lhe,
sob o pretexto de que ele é indigno disso?
Como é que chegas à conclusão
de que lhes dás qualquer coisa,
se não lhe dás o essencial que é o acolhimento,
acolhimento esse que pode tornar tão nobres
as tuas relações com o inimigo mais mortal?
Que acolhimento contas extorquir-lhe
com o fardo dos teus presentes?
Ele não pode deixar de te odiar,
se vai embora de tua casa
cheio de dívidas.
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